Ciência
23/04/2018 às 10:47•2 min de leitura
Diferente da mente de uma pessoa com autismo, o cérebro de quem é neurotípico tende a focar no todo, na realidade de maneira mais ampla, em vez de dirigir sua atenção diretamente a um detalhe.
Não que não tenhamos essa capacidade — sabe-se que isso é possível e que muitas vezes um aspecto ou uma especificidade captam nossa atenção imediatamente. Mas, de maneira geral, a mente humana tende a lembrar das situações de maneira mais global antes de associar uma lembrança a um ponto em particular.
Um estudo divulgado pela Universidade de Nova York a partir da pesquisa da professora de psicologia e neurocientista Lila Davachi mostra que o cérebro atua assim de maneira inconsciente e que duas partes do cérebro são responsáveis por assimilar memórias específicas em conhecimentos mais amplos: o córtex pré-frontal médio e o hipocampo.
O primeiro é uma região relacionada à cognição humana e normalmente ativada para memórias distantes. O segundo, o hipocampo, é responsável por separar as lembranças umas das outras. Mas o que surpreendeu os cientistas envolvidos no estudo foi que, nesse caso, o hipocampo também atuou recodificando as memórias à medida que eram recuperadas.
Cada tipo de lembrança é codificado por um padrão de neurônios e, nesse processo, detalhes muito minuciosos são ignorados para que o cérebro consiga ter focar no entendimento global. Ou seja, não se trata apenas de esquecimento, mas sim de um processamento diferenciado.
Já é sabido também que o cérebro processa as informações constante e involuntariamente. Ele decide automaticamente entre aprender e reter os detalhes específicos de uma experiência específia e assimilar todas as experiências semelhantes.
Nessa pesquisa, Davachi buscou entender como ele seleciona essas informações que vai guardar e decide quais vai descartar ou colocar em segundo plano, além de como ele codifica a nossa percepção do tempo através da memória.
Para fazer a análise, os pesquisadores selecionaram um grupo de indivíduos, que foram expostos a imagens de objetos específicos em uma de quatro cenas — um quarto, uma cidade, uma floresta e uma praia. Eles monitoraram os cérebros dos sujeitos para avaliar quais áreas do cérebro eram ativadas durante a exibição das imagens e o que mudava de acordo com o cenário visto.
O que eles perceberam foi uma mudança de ativação neuronal dependendo de onde o objeto específico estava na sequência de imagens. Passado algum tempo desde que as imagens tinham sido exibidas, os participantes lembravam de as ter visto, mas não quanto tempo havia se passado entre elas.
No vídeo acima, do TED Talks, Davachi fala também sobre outros aspectos da sua pesquisa sobre memória e percepção do tempo e exemplifica: imagine que você vai ao supermercado e, enquanto faz suas compras, encontra uma amiga. Você conversa um pouco com ela, volta a fazer as compras e, logo depois, encontra outro amigo. Depois de pagar pelas compras, você reencontra esse segundo amigo mais uma vez no estacionamento do supermercado.
Segundo a neurocientista, quando você se lembrar desses eventos no futuro, você talvez recorde dos três encontros, mas terá dificuldade para relacionar imediatamente que todos aconteceram no mesmo dia. Como dois encontros se passaram no mesmo lugar — o supermercado —, o padrão de memória para ambos é o mesmo. Mas, para o terceiro cruzamento, será outro, pois a figura geral é diferente.
Curioso como o cérebro humano funciona, não é mesmo?