Ciência
28/10/2019 às 14:30•2 min de leitura
Para se proteger na natureza vale tudo, afinal, ela é linda como a conhecemos, mas pode ser bastante perigosa. E uma espécie de anfíbio não hesita quando o assunto é proteção: o sapo Sclerophys channingi foi o alvo de um estudo de especialistas que focaram seus esforços em entender seu padrão de pele, como é parecido com o da víbora-do-gabão — ou Bitis gabonica, uma serpente venenosa comum na África subsaariana — e como essa semelhança o ajuda a sobreviver.
O artigo que mostra os resultados do estudo foi publicado no Journal of Natural History e mostra que as similaridades entre as manchas presentes no couro de ambos os animais não são mera coincidência. De acordo com os pesquisadores, o sapo desenvolveu essa aparência durante sua evolução e o objetivo é realmente se proteger dos possíveis predadores.
O coautor da pesquisa, Eli Greenbaum, da Universidade do Texas, explicou que 10 anos de trabalho de campo e observação direta de pesquisadores que puderam ver o comportamento do sapo basearam o estudo. “Estamos convencidos de que este é um exemplo de imitação batesiana, em que uma espécie inofensiva evita predadores fingindo ser outra, que é tóxica e perigosa”, disse.
A "camuflagem" do sapo acabou sendo uma grande defesa, uma vez que a víbora-do-gabão é a maior do seu gênero e a cobra que mais produz veneno no mundo. Para Chifundera Kusamba, do Centro de Pesquisa em Ciências Naturais da República Democrática do Congo, a estratégia do sapo é bem acertada. Ele explica que muitos predadores utilizam a visão para encontrar suas presas e ao utilizar as marcações da víbora mortal, os sapos são evitados já a uma distância considerável.
Além da aparência, o sapo também aprendeu a reproduzir sons semelhantes àqueles emitidos pelas víboras e, mais uma vez, a estratégia é de segurança. A víbora emite um assobio alto antes de atacar e, segundo os especialistas, o sapo produz um silvo descrito como “o ar saindo de um balão”.
Eli Greenbaum ressaltou ainda que esta foi a primeira vez que um estudo foi realizado focado especialmente na relação entre essas duas espécies, atingindo um bom resultado com diversas fontes, evidências e com uma hipótese forte e bem fundamentada para explicar a imitação do sapo.
Os biólogos acreditam ainda que a evolução das espécies aconteceu na mesma época, entre 4 e 5 milhões de anos atrás.