Ciência
05/11/2019 às 13:00•2 min de leitura
O desenvolvimento de pesquisas e tecnologias que sejam capazes de auxiliar a compreender o funcionamento do corpo humano para prevenir e combater doenças caminha a passos muitas vezes bastante largos. Um grupo de pesquisadores tem levantado um debate importante sobre os limites éticos que estão envolvidos na criação de cérebro humano em laboratório.
Os neurocientistas alertam que o crescimento de pedaços do cérebro humano em laboratório e, em alguns casos, até mesmo o transplante do tecido para animais pode ter feito com que se cruzasse a linha da ética, alertam os pesquisadores.
Os minicérebros são criados a partir de células-tronco e, apesar de terem apenas o tamanho de uma ervilha, podem desenvolver ondas cerebrais espontâneas, como as observadas em bebês prematuros. Este tem sido um dos campos mais movimentados da neurociência moderna, com muitos cientistas acreditando que esses organoides têm o poder de transformar a medicina ao permitir que um cérebro vivo possa ser estudado dessa maneira.
Por outro lado, há quem levante a bandeira da prudência, tanto que na reunião anual de neurocientistas do mundo, alguns pesquisadores devem revelar que cientistas estão trabalhando muito próximo de uma linha tênue que pode romper com a ética e outros podem, até mesmo, já tâ-la ultrapassado ao criar nódulos sencientes de cérebro em laboratório.
Para Elan Ohayon, diretor do Laboratório de Neurociência em San Diego, Califórnia, se existe a possibilidade de um organoide ser senciente, a linha da ética pode ter sido cruzada. “Não queremos que as pessoas pesquisem onde há potencial para algo sofrer”, ressaltou.
O cérebro humano vivo coloca diversos obstáculos para o estudo dos neurocientistas e, por isso, os organoides têm sido considerados um desenvolvimento importante na área, sendo usados para investigar esquizofrenia, autismo, os motivos pelos quais alguns bebês desenvolvem microcefalia ao serem infectados pelo zika vírus no útero, entre outros. Além disso, os pesquisadores projetam utilizá-los para estudar diversos distúrbios cerebrais, como Alzheimer, Parkinson e doenças oculares, como degeneração macular.
Apesar disso, Ohayon e os colegas Ann Lam e Paul Tsang devem argumentar na reunião da Society for Neuroscience, em Chicago, que as verificações precisam ser feitas garantindo que os organoides do cérebro não tenham sofrimento. “Já estamos vendo atividade em organoides remanescente da atividade biológica no desenvolvimento de animais", disse Ohayon.
Recentemente, pesquisadores de Harvard mostraram que os organoides do cérebro são capazes de desenvolver uma rica diversidade de tecidos, neurônios do córtex cerebral e células da retina. Alguns deles, cultivados por oito meses, desenvolveram suas próprias redes neuronais, despertando atividades e respondendo a estímulos de luz.
Em San Diego, no Salk Institute, Fred Gage liderou um estudo no qual organoides do cérebro humano foram transplantados em cérebros de ratos. Com isso, os pesquisadores descobriram que eles se conectavam ao suprimento de sangue do animal gerando novas conexões.
Ohayon quer que os financiamentos cedidos por agências sejam congelados quando as pesquisas estiverem direcionadas a colocar organoides do cérebro humano em animais e também quando houver uma chance razoável de que os organoides se tornem sencientes.
Para Greely, as preocupações são ainda mais maiores caso os organoides percebam e reajam a estímulos que podem causar dor. “Isso se torna ainda mais importante se tivermos motivos para acreditar que o organoide tem uma reação aversiva a esses estímulos, que ‘sente dor’. Duvido fortemente que alguém tenha chegado a esse ponto ou se aproximou dele ”, finalizou