Artes/cultura
11/03/2020 às 08:37•2 min de leitura
O tamanho e a forma da cabeça de uma variedade de formigas-soldado da espécie tartaruga revelaram que a evolução pode ser reversível e ir na direção oposta. Esses insetos, que habitam árvores, deslizam de um lado ao outro com suas grandes cabeças, que também são utilizadas para bloquear as entradas de seus ninhos, atuando essencialmente como portas vivas, selando perfeitamente as entradas.
Nem todas as cabeças dessa espécie de formiga têm o mesmo formato: algumas são redondas, outras são quadradas. Esses vários formatos de cabeça revelam mais do que apenas uma estranha peculiaridade da natureza e também podem esclarecer como as espécies evoluem para preencher os nichos ecológicos existentes. Essa evolução, de acordo com nova pesquisa publicada no Proceedings of the National Academy of Science (PNAS), pode ser reversível e pode levar uma espécie a um estágio mais generalista.
" É comum alguém pensar que, por uma espécie ser especializada, ela fica presa em um nicho muito estreito, mas as formigas são um caso interessante de seres com uma trajetória evolutiva bastante dinâmica, com muitas idas e vindas" disse Daniel Kronauer, chefe do Laboratório de Evolução e Comportamento Social da Rockefeller.
Como muitos outros insetos sociais que vivem em colônias, as formigas se especializam em diferentes funções, desenvolvendo frequentemente características exageradas, mas adequadas ao seu trabalho. Para as formigas-soldado, por exemplo, esse processo resultou em cabeças grandes com várias formas.
"Há uma enorme diferença entre as cabeças das formigas maiores e menores, para ajudar as pessoas a imaginar isso, costumo dizer que as espécies menores podem se sentar confortavelmente na cabeça das espécies maiores", diz Scott Powell, biólogo da Universidade George Washington e principal autor do novo estudo.
A forma e o tamanho da cabeça de uma formiga-soldado são estabelecidos pelo tipo de túnel que elas ocupam. Essas formigas não cavam os túneis, mas passam por escavações de besouros. E como um túnel no fundo pode ser muito grande ou muito pequeno, diz Kronauer, as formigas rapidamente se diversificam para ocupá-lo.
A relação entre as cabeças de formiga e os túneis pode, portanto, oferecer uma visão única e clara da seleção natural. Os pesquisadores podem comparar facilmente uma característica, nesse caso a circunferência da cabeça desse animal, a aspectos ecológicos nos quais ela evoluiu para se adaptar, por exemplo o tamanho da entrada de cada ninho.
Para examinar a jornada evolutiva, os pesquisadores agruparam 89 espécies de formigas conforme os formatos de cabeça dos soldados da espécie, baseando-se nestas formas: quadrada, cúpula, disco ou em placa. Eles também incluíram um grupo de espécies de formigas sem soldados. Com isso, examinaram as relações evolutivas entre esses grupos usando as informações genéticas das espécies coletadas.
Se a evolução fosse um caminho unidirecional, as primeiras formigas que apareceram, há cerca de 45 milhões de anos, deveriam ter perdido completamente os soldados e depois evoluiriam gradualmente para a especialização, começando com soldados generalistas de cabeça quadrada (mesmo aqueles com cabeças de placa).
No entanto, a nova análise sugere que esse não era o caso. Em vez disso, o ancestral comum mais antigo que os pesquisadores poderiam rastrear provavelmente tinha uma cabeça quadrada. Este passou a formar uma variedade de espécies sem soldados e com outros níveis diferentes de especialização. Em alguns casos, espécies mais especializadas inverteram a direção ao longo do tempo, voltando a formas de cabeça mais generalistas.