Ciência
01/07/2020 às 11:31•3 min de leitura
De acordo com um estudo publicado na revista Nature, 110 é o número mínimo de pessoas para uma ocupação bem-sucedida de Marte. A previsão foi elaborada por Jean-Marc Salotti, um cientista da computação da França, com base em um modelo matemático que leva em conta uma série de variáveis para estabelecer uma comunidade autossustentável no Planeta Vermelho.
Intitulada Minimum Number of Settlers for Survival on Another Planet (Número Mínimo de Colonos para Sobreviver em outro Planeta, em tradução livre), a pesquisa busca, através de simulação, determinar a quantidade de exploradores e garantir sua viabilidade. "Esse método permite comparações simples e abre o debate para a melhor estratégia de sobrevivência e o melhor lugar para ter sucesso", diz o autor.
O ponto central da ideia é o que ele chama de fator de compartilhamento, que permite a redução dos requisitos por indivíduo. "A sobrevivência é possível apenas se a exigência de tempo de trabalho for menor que a capacidade do tempo de trabalho. Como a exigência de tempo por indivíduo tende a diminuir com o aumento da população, a determinação do número mínimo para a sobrevivência é direta", escreve.
Gráfico indica que a capacidade anual de tempo de trabalho é maior que a exigência anual de tempo de trabalho, caso o número inicial de indivíduos seja 110.
Para isso, ele afirma que as pessoas deveriam trabalhar em conjunto para realizar funções que beneficiariam o grupo. Um número maior de indivíduos tornaria possível a especialização de tarefas e poderia implementar outras ações para os demais. Assim, para o aumento da produtividade, ele dividiu as atividades humanas em cinco grandes domínios.
O primeiro seria a gestão de ecossistemas, no qual as principais atividades seriam projetar e manter sistemas para o consumo e o controle das condições de vida, como ar, água e alimentação. Em segundo lugar estaria a produção de energia para as principais tarefas ligadas à extração e ao processamento de materiais, em sintonia com o domínio da indústria, em especial de metalurgia e química.
No terceiro ponto, o autor aponta que "mesmo que uma base seja construída antes da chegada dos seres humanos, ela deverá ser frequentemente reorganizada de acordo com a evolução do assentamento", por isso há a necessidade da divisão de construção. Já o último domínio diz respeito às atividades sociais, que englobariam educação, cuidados de saúde e higiene, esporte, cultura e entretenimento.
Divisão das atividades humanas em 5 domínios para garantir a sustentabilidade da vida no planeta.
A curiosidade e o interesse por essa temática são alvos constantes de pesquisadores e englobam diversas áreas. Para tornar possível a habitação no local, alguns cientistas trazem a possibilidade de extrair gases da atmosfera e minerais do solo, o que poderia fornecer compostos orgânicos e recursos naturais para a permanência e independência de viver em Marte.
Dentre os desafios para a montagem do assentamento, Salotti destaca a importância de localizar os recursos necessários para a construção de instalações de indústria, agricultura e suporte de vida. Contudo, faz ressalva de que o conhecimento de todas as variáveis para essa proposta ainda é pouco compreendido.
"Eu indico que um modelo matemático pode ser utilizado para determinar o número mínimo de colonos e o modo de vida para sobrevivência em outro planeta, usando Marte como exemplo. Essa é uma estimativa otimista da capacidade, porém, a viabilidade de reutilização permanece incerta e a qualificação do veículo para aterrissar no planeta pode ser muito difícil e levar várias décadas", ressalta.
Arte conceitual da montagem das atividades humanas em Marte.
A complexidade da missão exige a definição de muitas questões, como investimento, viabilidade das viagens interplanetárias, vida útil dos equipamentos de partida, entre outras. "Por uma questão de simplicidade, presume-se que a quantidade inicial de recursos e ferramentas enviadas da Terra será bastante limitada e, como consequência, não terá muito impacto na sobrevivência", explica.
Embora existam muitos desafios para a concretização de um cenário de viagem e habitação em outros planetas, Salotti conclui que sua pesquisa pode ser capaz de ajudar agências espaciais a elaborar planos orientados a dados e, assim, investir no empreendimento.
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