Ciência
06/09/2020 às 11:00•2 min de leitura
Um estudo publicado na revista científica Current Biology levanta hipóteses sobre a importância do leite na dieta dos povos europeus durante a Idade do Bronze (em torno de 1200 a.C.) — e como a intolerância à lactose pode ter impedido que pessoas que não podiam digerir leite deixassem tantos descendentes quanto aquelas que podiam, ilustrando a Teoria da Evolução, de Charles Darwin, nos humanos daquele período.
Os pesquisadores conseguiram sequenciar o DNA encontrado nos ossos de soldados que morreram às margens do rio Tollense, na atual Alemanha, e descobriram que a maior parte deles era considerado intolerante à lactose, que é um tipo de açúcar presente nos leites.
Contudo, a taxa de pessoas que podiam tomar leite cresceu rapidamente nos anos seguintes. No período medieval, cerca de 2 mil anos depois da Idade do Bronze, aproximadamente 60% das pessoas eram capazes de consumir a bebida.
Os pesquisadores ainda trabalham com hipóteses nesse sentido. Acreditam que o consumo do leite pode ter ajudado esses indivíduos a driblarem problemas graves, como a contaminação de fontes de água.
Nesse sentido, em vez de correrem o risco de sofrer com uma intoxicação por beber água contaminada, eles beberam leite, uma bebida com menor risco de contaminação — principalmente em uma época em que conceitos como tratamento de água e esgoto ainda estavam distantes.
A falta de alimentos causada pelas mudanças no tempo, como secas ou chuvas intensas, também poderia ser minimizada consumindo leite.
De acordo com os pesquisadores, os indivíduos capazes de digerir o leite puderam incluir o seu valor energético na dieta, vivendo mais e deixando descendentes que também não eram intolerantes à lactose, fazendo com que, com o passar dos séculos, o número de pessoas que podia consumir leite crescesse na Europa.
Ainda de acordo com os pesquisadores, os indivíduos que não eram intolerantes à lactose tiveram 6% mais chances de deixar descendência do que aqueles que não podiam tomar leite.
A intolerância à lactose foi caindo na população europeia com o passar dos anos. (Fonte: Pixabay)
O ser humano é único mamífero que desenvolveu a capacidade de tomar leite depois de adulto. Outros animais não conseguem digerir a lactose depois de desmamarem — e é por isso que não se deve dar leite aos cães e gatos depois que eles deixam de ser filhotes.
De acordo com o Departamento Científico de Gastroenterologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, cerca de 40% dos brasileiros com mais de 3 anos de idade sofrem com sintomas leves ao consumir produtos à base de leite.