Artes/cultura
08/09/2020 às 03:00•2 min de leitura
Você provavelmente já ouviu falar de algum caso sinistro envolvendo cemitérios, como tampas de caixão todas arranhadas por dentro, comprovando que o defunto foi enterrado vivo. Para os arqueólogos e antropólogos, esse tipo de descoberta faz parte da profissão, chegando até a receber um nome: enterros desviantes.
(Fonte: Pixabay/Reprodução)
E um novo estudo realizado por antropologistas do Instituto de Medicina Forense da Universidade de Berna, na Suíça, avaliou um tipo curioso de enterro desviante no qual os cadáveres eram posicionados de bruços, e que aparentemente se tornou uma prática comum na Idade Média até o início da Idade Moderna em alguns países europeus.
A pesquisa foi publicada pela revista PLOS ONE, e analisou 95 sepultamentos diferentes em 60 sítios arqueológicos espalhados pela Alemanha, Áustria e Suíça, verificando a distribuição geográfica, datação, características do enterro, idade, sexo e possível causa da morte.
(Fonte: Pixabay/Reprodução)
Os resultados mostraram que, com o passar do tempo, houve uma mudança nos motivos por trás desse tipo de posicionamento e até mesmo em suas razões. Na Idade Média, a prática incomum era um pedido do próprio falecido, normalmente uma pessoa de muitas posses, como um sinal de humildade perante a Deus.
Porém, segundo os antropólogos, por volta dos anos 1300 a 1400, estes enterros tinham um motivo mais supersticioso. Eles notaram que o aumento de sepultamentos deste tipo coincidia com a crescente popularidade dos contos dos nachzehrers, uma espécie de vampiro do folclore alemão.
“Os nachzehrers devoram seus próprios corpos, incluindo suas mortalhas fúnebres, e ao fazer isso, causam sons de estalos. Eles também estão associados a doenças epidêmicas; sempre que um grupo morre da mesma doença, a pessoa que morre primeiro é rotulada como a causa da morte dos outros”, explicaram os pesquisadores do estudo.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
Além disso, a propagação de doenças durante os séculos 14 a 17 pode ter sido outro motivo para a escolha da posição, com os milhares de corpos em decomposição servindo para deixar a população ainda mais assustada.
“A rápida propagação de doenças epidêmicas no final da Idade Média, principalmente a peste, e mais tarde também a febre tifoide, sífilis e cólera, promoveu o medo dos mortos, não só no sentido de que as pessoas tinham medo da infecção, mas também porque tiveram que lidar mais com cadáveres. A ideia de mortos reanimados foi certamente influenciada pela decomposição, movimentos reflexos e estalar dos corpos”, disseram os antropólogos.
A equipe responsável pela pesquisa explicou que podem existir outros motivos para o sepultamento de bruços, e que irão analisar o DNA dos cadáveres para confirmar se sofrerem de alguma doença contagiosa, e até mesmo atrás de outras pistas que podem fornecer novas teorias.