Artes/cultura
12/10/2020 às 02:30•2 min de leitura
Em 2019, uma pesquisa publicada na revista científica Nature Communications mostrou que partículas de carbono negro (a popular fuligem) podem atravessar a placenta. Agora, pesquisadores da Queen Mary University, em Londres, descobriram que outras partículas resultantes da poluição (incluindo metais) também podem contaminar a estrutura que dá suporte de vida ao feto.
Foram examinadas as placentas doadas por 15 parturientes saudáveis, internadas no Hospital Real de Londres. Em 13 mulheres, os pesquisadores encontraram evidências de exposição à poluição acima do limite médio anual determinado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Partículas de fuligem podem ser vistas na imagem (pontos brancos) em uma varredura de tecido da placenta materna.
Elas apareceram em 1% das células analisadas, em todas as placentas. O que se descobriu é que partículas suspensas em ambientes altamente poluídos, quando inaladas, viajam dos pulmões para órgãos distantes, sendo aglutinadas por certas células da placenta humana e, potencialmente, a do feto.
“Sempre pensamos que a inalação da mãe poderia resultar em partículas de poluição viajando até a placenta materna, mesmo sabendo que existem mecanismos de defesa no pulmão que impedem as partículas estranhas de migrarem para outro lugar. Por isso, foi surpreendente identificá-las nas células da placenta de todas as 15 participantes”, disse a bióloga molecular Lisa Miyashita.
Além das já esperadas partículas baseadas em carbono, os pesquisadores acharam na placenta traços de metais, como sílica, fósforo, cálcio, ferro, cromo e, mais raramente, titânio, cobalto, zinco e cério.
Na imagem, é possível ver inclusões negras nas células da placenta, semelhantes à matéria particulada inalada.
O estudo, publicado na revista Science of The Total Environment, aponta como fonte dos elementos o tráfego pesado da capital inglesa – eles são resíduos da combustão de combustível fóssil, além do uso de aditivos acrescentados à gasolina e ao óleo, bem como o desgaste do asfalto, por conta dos freios dos veículos.
Para o grupo de estudos da Queen Mary University, ainda é preciso avançar nas pesquisas para determinar que efeitos essas partículas de poluição podem ter diretamente no desenvolvimento do feto. Segundo a pediatra e pesquisadora Norrice Liu, “sabemos que há uma ligação entre a exposição materna a altos níveis de poluição e problemas com o feto, incluindo risco de baixo peso ao nascer, mas, até agora, tínhamos uma visão limitada de como isso pode ocorrer”.
A placenta é composta por duas partes: a fetal, do mesmo tecido que forma o feto, e a materna, do mesmo tecido do útero da mãe. Oxigênio e nutrientes passam para o feto via cordão umbilical; as excreções do bebê fazem o caminho inverso. Enquanto os médicos recomendam que substâncias nocivas (como alguns medicamentos, álcool e nicotina) que passam pela placenta sejam evitadas, isso não é possível em relação à poluição do ar.
No estudo de 2019, pesquisadores da Hasselt University examinaram a placenta de 5 bebês prematuros e de 23 nascidos a termo; havia partículas de fuligem em todas elas. Houve 10 grávidas que viviam perto de ruas movimentadas que passaram mais partículas para a placenta do feto do que 10 grávidas que moravam a pelo menos 500 metros de vias congestionadas.
À época, Jonathan Grigg, o principal autor do estudo publicado e atualmente pneumologista pediátrico e especialista em Medicina Ambiental, afirmou que “há evidências epidemiológicas de que a exposição materna à poluição do ar está associada a resultados adversos, como aborto espontâneo. Isso precisa ser tratado a níveis de governo“.
Cobalto e outros metais poluentes são achados na placenta humana via TecMundo