Ciência
20/10/2020 às 03:00•2 min de leitura
O gibão-cristado-de-hainan (Nomascus hainanus) é uma das espécies de primata que mais corre risco de extinção. Atualmente com a população em nível considerado “crítico”, esses animais habitam somente a Ilha de Hainan, na China, e encontram cada vez menos espaços de floresta para viver.
Para piorar a situação, populações inteiras do gibão-cristado-de-hainan ficaram isoladas umas das outras graças a falhas geográficas e ambientais, que fragmentaram a floresta. Sem árvores próximas umas das outras para deslocamento, eles ficam organizados em grupos cada vez menores, o que reduz a reprodução e aumenta a exposição a riscos como caçadores e eventuais predadores. A província recentemente teve o controle reduzido e deve virar um local de livre comércio, o que pode resultar em maior circulação na região.
Agora, um experimento de um grupo de pesquisadores liderados pelo chinês Bosco Pui Lok Chan conseguiu parcialmente reconectar os gibões a partir uma ajuda da tecnologia: pontes artificiais de cordas que ligam as áreas antes separadas da ilha. O artigo científico com os resultados preliminares do estudo foi publicado recentemente no Scientific Reports e traz notícias animadoras.
As passarelas suspensas começaram a ser construídas em 2015, instaladas por especialistas em montanhismo. Câmeras de vigilância também foram posicionadas para monitorar os hábitos dos animais.
Depois desse passo, os pesquisadores só poderiam contar com a sorte: sem muitos estudos preliminares de apoio, eles agora precisavam aguardar para saber se a estrutura seria aceita pela população de primatas, que de início não aderiram ao caminho artificial.
Após 176 dias, as pontes de cordas foram usadas pela primeira vez por um gibão-cristado-de-hainan. De acordo com o estudo, a taxa de utilização do caminho cresceu com o tempo e todos os membros dos grupos cruzaram a ponte de 15,8 metros de comprimento — exceto um dos machos adultos que se recusou a fazer a travessia. A maioria faz a passagem em grupo e usando métodos de locomoção de escalada, em vez de se balançarem.
Os pesquisadores chineses estão otimistas com o projeto de preservação e, ao longo dos últimos anos, foi possível detectar o aumento no número de famílias da espécie vivendo na ilha. Porém, eles acreditam que essa é apenas uma solução parcial e temporária para um problema maior: a degradação ambiental da ilha de Hainan.
Junto com as pontes suspensas, os cientistas estão por trás de um projeto de reflorestamento das árvores nativas que pode devolver a flora local a um estado anterior — com passagens naturais e mais bem aceitas pelos animais da região do que pontes de cordas.
Um serviço de educação para que a população local ajude na conservação ambiental e entenda a importância da manutenção da vida selvagem, especialmente do gibão-cristado-de-hainan, também está em andamento.
Além disso, o próprio experimento tem uma logística complicada: as árvores são altas e de difícil acesso e a manutenção delas não é nada fácil, acessível apenas a especialistas da região. A pandemia também complicou eventuais visitas à ilha para ampliar a estrutura de pontes.