Estilo de vida
27/11/2020 às 05:00•2 min de leitura
Em 1908, o editor luxemburguês Hugo Gernsback publicou a revista Modern Effects que, em poucos anos, se transformou na famosa Amazing Stories – a primeira revista do mundo onde foi cunhado o termo “ficção científica”, antes descrito pelo homem como “cientificação”. Foi desse jeito que Gernsback ganhou o título de “pai da ficção científica”, mas foi sua mente altamente criativa como inventor que enraizou seu nome na história dos Estados Unidos, e não sua carreira como escritor.
Três anos antes de lançar a revista, Gernsback emigrou de Luxemburgo para Nova York, nos Estados Unidos, para tentar comercializar pilhas de célula seca que havia inventado e que ninguém queria comprar em seu país. Até a sua morte, em 19 de agosto de 1967, o homem conseguiu registrar cerca de 80 patentes, tais como a de um espelho elétrico luminoso, um pente e escova de dentes elétricos e até uma almofada de ouvido.
No entanto, nenhum desses produtos conseguiu ser mais estranho e controverso do que o seu capacete anti-distração.
Em 1925, a televisão não tinha nem de perto a quantidade de influência no meio social como tem hoje, principalmente por sua falta de conteúdo. Contudo, para Gernsback, naquela época, os verdadeiros responsáveis pelas distrações eram os ruídos e o ambiente como um todo ao seu redor. Foi pensando em dias que qualquer coisa poderia desconcentrar uma pessoa que ele inventou o “Isolador”, um capacete anti-distração.
Alegando eliminar 95% dos sons externos, o capacete era feito de madeira maciça e vedava completamente o rosto e até a boca da pessoa, impossibilitando que ela fosse comendo alguma coisa enquanto estava trabalhando ou estudando – afinal, esses eram dois componentes de distração.
O equipamento era tão hermeticamente fechado que era necessário que a pessoa atrelasse um tubo de oxigênio na entrada do nariz do equipamento para poder respirar adequadamente. Projetado também para minimizar o alcance visual do usuário, a maior parte da viseira de vidro do capacete era pintada de preto e possuía apenas uma estreita região mais clara, onde era possível enxergar o que estava posicionado somente logo à sua frente.
“Mesmo que a quietude suprema reine, você é o seu próprio perturbador praticamente em 50% do tempo. Você se recostará na cadeira e começará a estudar o padrão do papel de parede ou verá uma mosca rastejando ao longo da parede”, declarou o inventor para o jornal Times Signal, em 1925.
Claramente uma invenção que deveria manter os claustrofóbicos longe, a maioria das pessoas que fizeram uso do Isolador durante a fase de testes reclamaram que sentiam sono dentro do capacete silencioso e muito escuro. Foi pensando no uso prolongado que Gernsback introduziu uma extensão ao tanque de oxigênio para poder preencher o capacete com dióxido de carbono reciclado.
O Isolador foi apresentado na revista The American Physical Society, em julho de 1925, e serviu bem para quem trabalhava em ambientes industriais caóticos, além de ter sido um método que tentou ser usado por crianças que possuíam o então não diagnosticado Transtorno do Déficit de Atenção (TDA), embora fosse cientificamente ineficaz.
O capacete se tornou uma invenção esquecida pelos anos, mas recentemente a empresa ucraniana de design Hochu Rayu o reviveu com o moderno Helmfon, também de aparência estranha, apesar de mais moderno e menos angustiante. Em 2015, o designer belga Pierre-Emmanuel Vandeputte já tinha criado um capacete de cortiça que envolvia o usuário temporariamente e proporcionava o silêncio.
Para marcas como a Hochu Rayu, o conceito de um “Isolador moderno”, pensando no maior índice de distrações que existem nos dias de hoje, nunca foi uma ideia tão absurda assim.