Bobo Doll: o controverso experimento que avaliava a agressividade

14/12/2020 às 15:003 min de leitura

Em 2015, houve uma grande repercussão no meio científico após um estudo levantado pela American Psychological Association (APA) determinar que os jogos de videogames violentos podem induzir alteração de comportamento, causando perda de empatia e sensibilidade, aumentando agressividade e gerando violência. Ficou estabelecido que as pessoas que jogam tem maior probabilidade de desenvolverem esse comportamento durante interações sociais.

Isso tudo porque o estudo também poderia criar um paralelo com o impacto que os jogos têm no desenvolvimento da mente de uma criança. De um lado, existem pesquisadores que concordam que nenhum fator isolado pode fazer com que uma criança não violenta passe a agir de tal forma, enquanto do outro lado há a sugestão de que a forte exposição de crianças à mídia violenta combinada com fatores de risco (especialmente conflitos familiares) estão mais propensas a serem agressivas.

Na década de 1960, o influente psicólogo Albert Bandura queria exatamente analisar a probabilidade de crianças desenvolverem esse comportamento agressivo através de uma exposição direta, visto que elas tendem a reproduzir de maneira involuntária ou como descarga de emoções esse comportamento.

A peneira

(Fonte: Art19/Reprodução)
(Fonte: Art19/Reprodução)

Em 1961, através de um processo de recrutamento, Bandura encontrou 36 meninos e 36 meninas do jardim de infância da Universidade Stanford, na Califórnia, nos Estados Unidos, com idades de 3 a 6 anos, para integrar seu experimento comportamental.

O psicólogo separou-os em três grupos experimentais de 24 crianças cada, sendo que cada um seria exposto a um modelo de adulto agressivo, outro com modelo não agressivo e outro não teria modelo adulto algum (chamado de “grupo de controle”).

Os grupos eram de sexos mistos para garantir que metade das crianças tivessem contato com um modelo de comportamento de seu próprio sexo e com o sexo oposto. Todas as crianças já haviam sido avaliadas por Bandura para que ele pudesse identificar e registrar os níveis de agressão existentes em cada uma, além de poder combinar os grupos igualmente para que não tivessem níveis médios de reação agressiva durante o procedimento.

O boneco da agressão

(Fonte: Tutorialspoint/Reprodução)
(Fonte: Tutorialspoint/Reprodução)

Para que o comportamento de uma não influenciasse a outra, uma criança por vez foi conduzida até a uma sala de jogos onde havia vários brinquedos e atividades diferentes. Um adulto então entrava no aposento, sentava-se a uma mesa do outro lado da sala e começava a interagir com os mesmos brinquedos por um período de 10 minutos.

No canto da sala, havia um Bobo Doll, mais conhecido no Brasil como o boneco inflável João Bobo, que consiste em um boneco com fundo arredondado e um peso central no interior que volta à posição vertical sempre que é derrubado. Na versão não agressiva do experimento, o adulto brincava tranquilamente com os brinquedos e sequer olhava para o Bobo Doll. Na outra versão, porém o adulto atacava violentamente o boneco.

(Fonte: Econet/Reprodução)
(Fonte: Econet/Reprodução)

O modelo dava vários socos no nariz do boneco, pisava, dava marteladas na cabeça dele, jogava-o para o ar e o chutava pela sala. Além disso, o modelo também o agredia verbalmente com xingamentos e palavras de ordem como “chute-o!”.

Após serem expostas a condições diferentes, as crianças eram encaminhadas para uma sala com diversos brinquedos atraentes, como conjunto de bonecas, carros de bombeiro, aviões etc. Visando aumentar os níveis de frustração, depois de 2 minutos de brincadeira, elas foram informadas de que não podiam mais brincar com nenhum deles.

O efeito João Bobo

(Fonte: Personal Performance Solution/Reprodução)
(Fonte: Personal Performance Solution/Reprodução)

E então, cada criança foi conduzida para o último cenário experimental que tinha brinquedos de “descarga de agressão”, como martelo, bola de corda com um rosto pintado, dardos e o Bobo Doll. Os objetos não agressivos eram o giz de cera, animais de plástico, bonecas, papel e caminhões de brinquedos.

Durante 20 minutos, as crianças brincaram enquanto os psicólogos analisaram o comportamento de cada uma delas através de um espelho falso. As crianças do grupo exposto às agressões do adulto apresentaram frustração reprimida na maneira como interagiram com os brinquedos. Depois de alguns minutos, elas passaram a descarregá-la no boneco inflável através de marteladas e gritos. O “grupo de controle” e “o grupo com modelo não agressivo” apresentaram menos comportamentos violentos. 

No final das contas, o experimento serviu para testar a “teoria da aprendizagem social”, afirmando que as crianças aprendem observando e imitando modelos adultos. Bandura também verificou, em outro teste com dois grupos de sexos iguais, que cada sexo está mais propenso a repetir o exemplo de comportamento do modelo do mesmo sexo.

(Fonte: The Odyssey Online/Reprodução)
(Fonte: The Odyssey Online/Reprodução)

Portanto, ficou definido que os meninos eram mais violentos do que as meninas. Ao total, houveram 270 reações agressivas de meninos, como gritos e ataques físicos ao boneco inflável, em comparação às 128 reações apresentadas pelas garotas.

Bandura foi muito repreendido devido às circunstâncias nas quais os testes foram realizados. Os críticos apontaram que ser violento com um boneco é muito diferente de exibir agressão contra um ser humano no cotidiano social, fora de um ambiente laboratorial controlado. Foi observado por eles que as crianças não estavam sendo motivadas a exibir agressividade, e sim apenas tentando agradar os adultos. Além disso, o estudo foi acusado de sofrer de viés de seleção, pois todos os participantes foram escolhidos a partir do mesmo background racial e socioeconômico.

Em geral, o experimento Bobo Doll foi classificado como antiético e até mesmo prejudicial a longo prazo, visto que Bandura não pode acompanhar o impacto que ele teve na vida das crianças. Os pesquisadores alegaram que, ao manipular as crianças para que elas se comportassem agressivamente durante os 3 anos em que o estudo foi feito, estava sendo essencialmente ensinado a elas a serem assim. 

No entanto, o procedimento de Bandura continua sendo um dos mais influentes e fundamentais estudos comportamentais do Behaviorismo.

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