Ciência
16/03/2021 às 04:00•2 min de leitura
Um estudo científico publicado na revista JAMA Dermatology no início deste mês relatou o sofrimento de uma mulher por mais de cinco décadas: desde a primeira infância, ela tem uma incômoda lesão na orelha direita, que piorou recentemente com ocorrência de uma otorreia purulenta com odor fétido.
Seu caso foi diagnosticado como “orelha de peru”, um tipo de tuberculose de orelha, na qual uma infecção no lóbulo faz com que a pele fique avermelhada, áspera e dura ao toque, como o pescoço da tradicional ave natalina, embora os relatos de caso não expliquem qual das características inspirou o nome.
A mulher começou a se tratar em uma clínica Israel, no ano de 2008, quando recebeu dois meses de tratamento intensivo com quatro tipos de antibióticos para a "orelha de peru", posteriormente reduzido para apenas dois, durante mais sete meses. Os médicos israelenses compararam o estado da orelha a uma gelatina de maçã, por causa da cor da pele e da textura gelatinosa dos nódulos.
Quando a infecção começou a melhorar, a paciente parou de fazer o acompanhamento, retornando à clínica somente no ano passado. Segundo os autores do estudo atual, ao reexaminá-la, os médicos perceberam que a infecção havia desaparecido completamente e que a orelha voltara ao tamanho normal, com pequenas cicatrizes.
Fonte: JAMA Dermatology/Reprodução
As tuberculoses cutâneas são produzidas pela mesma bactéria que causa a infecção pulmonar característica, a Mycobacterium tuberculosis. De acordo com um estudo publicado no Indian Journal of Dermatology em 2012, é relativamente rara essa ocorrência na pele, quando comparada com outros locais fora do pulmão, como os gânglios linfáticos por exemplo.
No caso específico da orelha de peru analisada no estudo, a mulher recebeu o diagnóstico de Lupus vulgaris, também chamada de Tuberculose luposa, condição na qual a M. tuberculosis progride lentamente na pele, com essa aparência nodular, em regiões da face em torno do nariz, pálpebra, lábios, bochechas e orelhas.
Segundo o estudo, a tuberculose cutânea “se tornou rara nas últimas décadas”, embora possa ocorrer em países onde a vacina BCG não é amplamente utilizada, como nos Estado Unidos. No Brasil, o imunizante está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) e é de aplicação obrigatória em recém-nascidos desde 1976.