Ciência
22/03/2021 às 13:30•2 min de leitura
Que o estilo de vida do pai influencia a qualidade da saúde dos filhos já é um fato de conhecimento de qualquer estudante de epigenética. Porém, até hoje ninguém conseguiu compreender os mecanismos moleculares responsáveis por essa herança.
Isso mudou no mês passado, quando uma pesquisa publicada na revista Developmental Cell conseguiu rastrear, e explicar pela primeira vez, de que forma essas assinaturas ambientais hereditárias são transmitidas diretamente do esperma para o embrião.
Em um comunicado à imprensa, a principal autora da pesquisa e professora da Universidade McGill, Sarah Kimmins, explicou que a grande descoberta do estudo foi identificar “um meio não baseado em DNA pelo qual os espermatozoides se lembram do ambiente do pai (dieta) e transmitem essa informação ao embrião”.
Kimmins destacou que, ao aumentar a compreensão científica dos mecanismos da hereditariedade das experiências de vida paterna, será possível abrir novos caminhos para o estudo da transmissão e da prevenção de diversas doenças.
Fonte: Ariane Lismer et al./Divulgação
Outra autora do estudo, a doutoranda Ariane Lismer esclareceu que o maior desafio de trabalhar ao nível molecular do embrião é que você tem poucas células disponíveis para fazer a análise epigenômica. Isso foi, no entanto, compensado no estudo, através da utilização de novas tecnologias e ferramentas epigenéticas.
Para definir de que forma as informações que afetam o desenvolvimento passam para os embriões, os cientistas manipularam o epigenoma do esperma, alimentando camundongos machos com uma dieta pobre em ácido fólico e, em seguida, rastreando os efeitos disso em grupos específicos de moléculas em proteínas associadas ao DNA.
Fonte: Getty Images
Dessa forma, os pesquisadores conseguiram descobrir que as mudanças induzidas por essa dieta em um grupo de moléculas (grupos metil), associadas às proteínas histonas (que “empacotam” o DNA nas células), causaram alterações na expressão genética em embriões e defeitos congênitos na coluna vertebral e no crânio dos descendentes.
O que mais impressionou os cientistas foi que essas mudanças provocadas nos grupos metil das histonas dos espermatozoides não apenas foram transmitidas durante a fertilização como permaneceram no embrião em desenvolvimento. O próximo desafio será descobrir se essas deformações induzidas nas proteínas do esperma (histonas) podem de alguma forma ser reparadas.