Ciência
10/04/2021 às 06:00•2 min de leitura
Um grupo de pesquisadores tentou uma técnica inusitada para desvendar novas informações sobre os mecanismos de defesa de primatas na República do Congo. Utilizando fantasias de leopardos, os cientistas se esconderam em meio a uma floresta tropical ao norte do país para descobrir como macacos machos e fêmeas se comunicam quando o perigo está próximo.
O experimento realizado pela organização não governamental Wildlife Conservation Society foi liderado pela primatologista Claudia Stephan. De acordo com os achados publicados na Royal Society Open Science, as chamadas de alarme emitidas pelos animais não servem apenas para alertar o grupo sobre uma ameaça.
(Fonte: Claudia Stephan/Divulgação)
Os estudos feitos por Stephan e sua equipe mostraram tipos de comportamentos distintos entre os dois gêneros dos macacos. Enquanto as fêmeas pareciam tentar convencer os machos a realizarem certos tipos de ação e eles, em resposta, adotavam um comportamento mais agressivo e confrontador.
Segundo a pesquisadora, a equipe ficou bastante surpreendida sobre como as estratégias de comunicação entre os gêneros varia dentro do mesmo contexto entre os primatas. “Isso levanta muitas questões sobre a função que as chamadas de alerta geralmente atendem”, ressaltou Claudia.
Para a documentação dos dados, os pesquisadores precisaram de seis meses de estudo com 19 grupos diferentes de macacos-de-nariz-branco. Enquanto um membro da equipe se fantasiava de leopardo pela mata, os demais cientistas permaneciam nos bastidores utilizando ferramentas de alta tecnologia para captar os sons emitidos pelos primatas.
(Fonte: Claudia Stephan/Divulgação)
De modo geral, os macacos-de-nariz-branco costumam andar em grupos com um único macho adulto, várias fêmeas e todos os filhotes. Após o macho já ter passado seus genes para frente, a sobrevivência do bando passa a ser mais importante do que sua própria existência.
Por isso, quando as fêmeas fazem o chamado para que o macho entre em ação contra potenciais predadores, isso mostra a importância da comunicação entre os espécimes. Por mais que enfrentar um leopardo sozinho não entregue as melhores possibilidades de sobrevivência, esse confronto aumenta as chances do restante do grupo escapar.
Na visão dos pesquisadores, os dados obtidos no Congo trazem importantes revelações sobre as comunidades de macacos. Para Stephan, a biologia sempre focou em como os primatas lidavam com eventos externos, mas nunca parou para analisar as particularidades da comunicação entre os sexos.