Artes/cultura
23/04/2021 às 09:00•2 min de leitura
Um texto que pertence aos famosos Manuscritos do Mar Morto teve segredos revelados com a ajuda da tecnologia.
Pesquisadores da Universidade de Groningen, nos Países Baixos, concluíram que uma dupla escreveu o Pergaminho de Isaías, um dos sete documentos encontrados em 1946 dentro de uma caverna no território que hoje pertence a Israel.
A revelação apenas foi possível graças a uma Inteligência Artificial complexa e treinada que foi capaz de detectar diferenças nos traços que eram praticamente invisíveis ao olho humano, mas que são bastante evidentes em uma análise no material original.
O segredo no novo estudo foi utilizar análise de dados em larga escala e uma vistoria minuciosa do documento. Para isso, eles utilizaram uma série de técnicas que identificam as marcas da tinta, a forma da escrita e a origem dos materiais usados como papel.
O algoritmo criado pelos pesquisadores foi treinado a partir de uma rede neural para virar especialista em encontrar as menores variações possíveis em forma e até pressão na escrita de caracteres. Até mesmo mapas de calor foram desenvolvidos para identificar as variantes de forma de uma letra no texto.
A IA é capaz de encontrar traços diferentes na escrita dos mesmos símbolos.
Uma das descobertas confirma uma hipótese anterior: a de que o Pergaminho de Isaías possui uma divisão clara entre dois segmentos de suas 54 colunas de texto, sendo que as partes foram escritas por duas pessoas diferentes.
Não é possível confirmar a identidade dos autores, mas a simples confirmação com base em evidências de que uma dupla de fato produziu o documento já traz muitas mudanças na área e empolga os pesquisadores.
O conjunto de sete documentos que compõem o manuscrito data do século IV a.C ao século II d.C e são alguns dos mais velhos registros do Tanakh, a Bíblia Hebraica.
Apesar de serem estudados incessantemente desde a descoberta, feita por acidente por um pastor que procurava um animal perdido na região de Qumran, os autores dos textos permanecem desconhecidos.
O estudo de documentos parecidos pode ser aprimorado com ajuda do algoritmo.
Segundo o professor Mladen Popovic, que conduziu o estudo, esse é um passo inicial que pode levar a uma série de descobertas em outros documentos antigos — além de revelar ainda mais respostas sobre a origem e a produção dos Manuscritos do Mar Morto e evitar a propagação de exemplares falsos, como também já aconteceu.
O artigo completo dos pesquisadores pode ser conferido no periódico PLOS (em inglês).