Artes/cultura
14/07/2021 às 04:00•2 min de leitura
Uma vez conhecida por ser o abrigo de diversos "ossos de unicórnios", uma caverna na Alemanha revelou ser casa para um tesouro um tanto quanto menos interessante e místico do que os nossos antepassados acreditavam: uma peça de arte simbólica criada por Neandertais, é o que aponta um novo estudo publicado na Nature Ecology and Evolution.
Segundo os pesquisadores alemães, a obra de arte foi esculpida diretamente no dedo do pé de uma espécie de veado gigante já extinta nos dias atuais — o Megaloceros giganteus. Os ossos datam para 51 mil anos atrás, uma época em que os Homo sapiens ainda não haviam se aventurado pela região.
(Fonte: Dirk Leder/Divulgação)
Os estudos sugerem que todo o trabalho de esculpir os ossos foi feito por neandertais sem contar com a influência ou ajuda de humanos anatomicamente modernos. Dessa forma, a descoberta indica que os povos neandertais possuíam uma capacidade cognitiva maior do que se pensava anteriormente.
"Neandertais eram muito espertos e capazes de se comunicar e se expressar através de símbolos. Eles eram provavelmente cognitivamente muito semelhantes a nós como espécie humana", declarou Dirk Leder, pesquisador principal responsável pelo estudo. Porém, sua visão não é unanime entre arqueólogos.
No entendimento de outros pesquisadores, é pouco provável que os neandertais tenham criado a arte simbólica por conta própria. A recente descoberta de um esqueleto de Homo sapiens na República Tcheca com longos segmentos de DNA de neandertal sugere que as espécies cruzaram entre si há mais de 50 mil anos.
(Fonte: V. Minkus/Divulgação)
Chamada de Einhornho¨hle ("Caverna dos Unicórnios, em alemão), a caverna estudada pelos arqueólogos tem um passado vasto na mitologia. Desde a época medieval, os caçadores de tesouros afirmavam ter encontrado ossos de unicórnio no local. Entretanto, tratava-se de ossos normais de ursos, os quais eram vendidos às farmácias como medicamentos ou remédios para gerar lucro.
Em 1985, os arqueólogos encontraram ferramentas de pedra na caverna que foram feitas pelos neandertais. Para investigar mais sobre o assunto, Leder e uma equipe de pesquisadores decidiram voltar ao local em 2014. Porém, foi apenas em 2019 que eles encontraram o osso esculpido do dedo do pé, que estava enterrado perto da entrada pré-histórica da caverna.
Com linhas profundamente esculpidas e bem espaçadas, os pesquisadores passaram a acreditar que aquilo era fruto do "trabalho artístico intencional" dos neandertais. As pesquisas sugerem que o objeto não possuía nenhum uso prático, apenas fins artísticos.