Artes/cultura
31/10/2021 às 13:00•2 min de leitura
Ao fim do documentário A Enseada (2009), que se consagrou vencedor do Oscar, o antigo treinador de golfinhos Ric O'Barry alega que um dos golfinhos com quem ele trabalhava pulou de um tanque de água e "cometeu suicídio em meus braços". Mas será que esse tipo de comportamento, que já vimos inúmeras vezes acontecer com seres humanos, pode ser reproduzido pelos animais?
Na natureza, muitas outras espécies têm registros de comportamentos autodestrutivos que ocasionaram óbitos, mas pouco se fala sobre a intencionalidade desse mesmo comportamento. Então, vamos entender melhor qual é a definição de suicídio e o que acontece de fato com as outras espécies da natureza.
(Fonte: Pixabay)
Se não bastasse ser complicado definir a palavra "suicídio", achamos ainda mais difícil explicar por que alguns seres humanos decidem se matar. Os fatores de risco para o suicídio entre a nossa espécie ainda são indeterminados, sendo algo que não foi completamente explicado pela comunidade científica.
Até mesmo os parâmetros do que constitui o suicídio em humanos são debatidos — sendo isso uma questão filosófica, biológica ou psiquiátrica. Pilotos kamikaze e homens-bomba são realmente suicidas? Em geral, esses indivíduos não exibem o mesmo tipo de patologia do que aqueles que cometem suicídio e são mais motivados por razões políticas e religiosas do que por um desejo de morrer.
O suicídio é uma escolha ou uma consequência de um estado patológico? Esse é um fator que devemos levar em consideração se quisermos falar sobre esse assunto em relação aos animais. Pelo que sabemos até agora, existem muito mais indícios de que o ato do suicídio está mais ligado ao resultado de uma doença do que a segunda opção.
(Fonte: Pixabay)
Então, se a pergunta segue sendo "os animais podem cometer suicídio?", a resposta continua ambígua: sim e não. Para alguns pesquisadores, atribuir esse tipo de comportamento humano a outras espécies pode ser chamado de antropomorfismo e, portanto, descartado para análise.
Aqueles que argumentam a favor do conceito de "suicídio animal" mantêm uma visão de que outras criaturas podem ter comportamentos similares aos humanos, mas os manifestam de maneiras diferentes, ou seja, embora o luto dos animais — depressão, felicidade ou raiva — possa não se manifestar da mesma forma que em nós, isso não significa a inexistência dele. O mesmo seria válido para o suicídio.
De acordo com Duncan Wilson, pesquisador da Universidade de Manchester, existem diversos artigos dos anos 1800 que já abordavam o suicídio animal. Segundo ele, cachorros eram conhecidos por andar até o túmulo de seus donos para morrerem juntos, gatos se enforcavam após a morte de filhotes e cavalos se matariam após anos de maus-tratos.
(Fonte: Pixabay)
Se considerarmos o suicídio como um ato consciente, dificilmente poderíamos chamar um animal de suicida. Ao que tudo indica, é mais provável que outras espécies de seres vivos acabem com suas vidas de maneira descuidada quando estão se sentido muito solitárias ou depressivas.
Animais com fortes laços sociais mudam o comportamento quando perdem um companheiro. Por exemplo, cachorros com depressão podem recusar a alimentação e até eventualmente morrerem de inanição. A inatividade causada pela depressão não é o mesmo que suicídio, embora também possa levar à morte.
Portanto, há quem defenda que a "autodestruição" é um termo mais adequado para outras espécies do que o suicídio — que carrega consigo uma complexidade do pensamento humano difícil de aplicar em outros casos. Porém, ainda há uma longa jornada sobre o comportamento animal que precisamos aprender antes de termos as respostas exatas para essa pergunta.