Ciência
02/06/2022 às 06:30•2 min de leitura
Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro vetou a inserção do nome da psiquiatra alagoana Nise da Silveira no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Sua decisão foi muito criticada, uma vez que a médica é conhecida como alguém que revolucionou o tratamento para transtornos mentais no mundo todo.
O trabalho revolucionário de Nise se iniciou quando ela ingressou, em 1946, no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Ela começou a fazer um trabalho com os internos que envolvia estimulá-los a criar arte.
Nise era contra as técnicas usadas pelo hospital com os "clientes" (palavra que ela preferia em relação à paciente, pois acreditava que a relação era de troca) com doenças mentais: eles eram submetidos a eletrochoques desnecessários, camisas de força, lobotomia e encarceramento. A proposta da psiquiatra então foi a de usar técnicas da terapia ocupacional, estimulando que eles se aproximassem da criação artística.
(Fonte: Correio Braziliense)
Nise ocupou o departamento de terapia ocupacional, que estava abandonado, e passou a envolver os internados. Eles receberam tarefas de limpeza e manutenção do lugar, e aos poucos foram montando ateliês de pintura e escultura.
Dentro deste espaço, obras artísticas incríveis foram surgindo das mãos e das mentes dos clientes. Envolvida nos estudos e nas ideias do psiquiatra Carl Gustav Jung, de quem também foi aluna, Nise acreditava que a arte poderia ser uma porta para que os internos do hospital encontrassem um meio de expressão do que tinham em seu inconsciente, ajudando assim a lidar com o seu sofrimento.
Em 1952, Nise criou o Museu de Imagens do Inconsciente, localizado no Rio de Janeiro. No local, os internos do hospital psiquiátrico puderam começar a expor suas criações. E as ideias de Nise da Silveira passaram então a repercutir mundialmente.
(Fonte: O Globo)
O trabalho feito por Nise e seus assistentes era feito de forma totalmente individualizada com os clientes de seu ateliê. Cada um deles era estimulado a criar de forma totalmente livre.
A criação feita por cada um era uma oportunidade para que Nise explorasse e trabalhasse junto com os internos, possibilitando que eles tivessem melhoras significativas em suas vidas
As histórias de muitos destes participantes do ateliê ficaram conhecidas. Uma interna chamada Adelina, que sofria de esquizofrenia, produziu 17.500 pinturas, que representavam imagens arquetípicas femininas. Adelina passou de uma pessoa considerada agressiva para alguém mais tranquila e centrada.
Outro cliente foi Isaac Liberato, um jovem internado em 1930, aos 24 anos. Com muita dificuldade na linguagem verbal, ele conseguiu desenvolver uma linguagem artística fluida e repleta de sentidos. Produziu continuamente até sua morte em 1966.
As produções destas pessoas ficaram tão famosas que foram expostas internacionalmente. Alguns quadros foram levados para o II Congresso Internacional de Psiquiatria em 1957, na Suíça. O próprio Carl Gustav Jung inaugurou a exposição.
O nome de Nise, portanto, configura como importantíssimo na história de toda a psiquiatria por mostrar que pessoas com sofrimentos mentais precisam de tratamentos humanizados, que potencializam sua criatividade e sua disposição à vida, ao invés de métodos arcaicos que não promovem melhorias em sua saúde.