Estilo de vida
02/10/2022 às 09:00•2 min de leitura
Os neandertais tinham cérebros maiores, mas isso não significa que eram melhores. Embora o tamanho do cérebro seja fundamental, vale ressaltar que habilidades cognitivas, funções e conexões entre este órgão e o resto do corpo, e até mesmo a densidade dos neurônios, depende de muito mais aspectos que suas dimensões.
No caso dos neandertais, muitas dessas variáveis são um mistério. Afinal, o que temos (ou tínhamos) para estudar eram seus crânios e ossos, e não seus cérebros. Mas, mesmo com tais recursos, os antropólogos já conseguiram descobrir coisas surpreendentes sobre nossos parentes antigos.
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(Fonte:Shutterstock)
Graças à evolução tecnológica na ciência de investigação antropológica e ao desenvolvimento de novos recursos de pesquisa, foi descoberto recentemente que os cérebros dos neandertais se desenvolveram de maneira um pouco diferente do que ocorreu com o dos humanos modernos.
Uma equipe de pesquisadores do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig, na Alemanha, fez uma descoberta importante para entender como era a mente e o cérebro dos neandertais, se concentrando nas células-tronco neurais, aquelas das quais se originam os neurônios dos neocórtex em desenvolvimento.
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O que chamamos de neocórtex consiste, basicamente, na maior extensão da camada externa do cérebro. Trata-se de algo exclusivo dos seres mamíferos e, como era de se esperar, possui um papel fundamental no desenvolvimento e manutenção de diversas habilidades cognitivas.
Conforme o estudo dos cientistas do Instituto Max Planck, as células-tronco neurais gastam mais tempo no processo de preparação de seus cromossomos para divisão nos humanos modernos do que nos neandertais.
Uma conclusão básica disso é que, no nosso caso, essa demora é positiva, pois diminui as chances de que erros sejam cometidos por ocasião da distribuição dos cromossomos para as “células filhas”.
Nos neandertais esse processo diferia, e isso poderia ter levado a consequências significativas sobre como funcionavam e se desenvolviam seus cérebros.
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Ainda segundo a pesquisa publicada no início deste mês na revista Science, entre nossos predecessores neandertais e as nossas versões modernas, a versão do gene responsável por codificar a proteína transcetolase-like-1 (TKTL1) apresenta uma pequena diferença em um par de bases.
Simplificando, nos neandertais essa mutação específica em TKTL1 contava com uma lisina. Por outro lado, nos humanos modernos, o que há é uma argina.
De acordo com os pesquisadores que realizaram os testes analisando o tecido de neocórtex humano de fetos, furões, camundongos e até de organoides projetados de cérebro humano, a conclusão mais básica é de que o comportamento do gene mutante poderia ajudar a explicar muito sobre cérebros ricos em neurônios na história da humanidade.
Aliás, sugerindo até mesmo a possibilidade da existência de humanos com uma capacidade cognitiva e intelecto superior ao dos neandertais alguns milhares de anos atrás.
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A pesquisadora de evolução neural da Universidade da Califórnia, Carol Marchetto, que não fez parte das pesquisas, apontou que, embora seja tudo muito novo, interessante e o estudo seja único e bem executado, algo que chamou sua atenção é o quanto é surpreendente que uma minúscula e simples substituição de aminoácidos possa causar mudanças tão significativas em termos neurais e cognitivos, afetando praticamente todos os aspectos evolutivos, do físico ao mental de um determinado ser.
Por exemplo, devido a essa mutação, os cérebros dos neandertais poderiam ter sido adaptados para uma organização diferente, resultando em capacidades cognitivas desconhecidas.
Para se ter ideia do quanto é importante entender o cérebro, vale citar um estudo de 2013 em que os cientistas concluíram que os neandertais, provavelmente, tinha uma visão melhor. Eles chegaram a esse resultado considerando o córtex visual, tamanho das órbitas e até os buracos nos crânios.
Uma vez que tinha córtices visuais maiores, a visão também era melhor. Para alguns estudiosos, essa adaptação olho-cérebro pode ter surgido como uma forma de lidar com latitudes mais altas, e com menos incidência de luz.