Estilo de vida
20/10/2022 às 13:00•2 min de leitura
A realidade segue caminhando para tentar alcançar a ficção científica. Um dos últimos passos nessa jornada foi dado pela equipe da Cortical Labs, que desenvolveu células cerebrais em laboratório. Essa não é a primeira vez que esse tipo de pesquisa é realizada. A diferença é que agora este “minicérebro” conseguiu aprender a jogar videogame completamente sozinho.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Brett Kagan, um dos responsáveis pela pesquisa, afirmou que este é o primeiro cérebro “sensível” criado totalmente em laboratório. O termo, que recebeu algumas críticas da comunidade científica, faz referência à capacidade que o minicérebro tem de sentir o ambiente onde está, e até mesmo a reagir a ele.
Kagan reconhece que tratar as células cerebrais como sencientes pode ser um pouco precipitado. Sua escolha, porém, foi por não ter encontrado um termo melhor. “Ele é capaz de receber informações de uma fonte externa, processá-las e responder em tempo real”, explicou o pesquisador.
Em 2013, foi criada pela primeira vez que uma cultura de células nervosas, com o objetivo de estudar a microcefalia e tentar achar alguma cura para a doença. Desde então, pesquisadores do mundo todo desenvolvem pesquisas semelhantes, que podem ser a chave para outras doenças que afetam o cérebro.
(Fonte: Cortical Labs/Reprodução)
O que mais chama a atenção do trabalho de Kagan e seus colegas é a maneira como o minicérebro conseguiu reagir ao ambiente. Para testá-lo, ele foi conectado a um videogame com o jogo Pong. Em apenas cinco minutos, o minicérebro conseguiu “entender” o objetivo do jogo e interagir com ele. Pesquisas com inteligências artificiais se diferenciam desta, pois é necessário ensiná-las a jogar.
Porém, o minicérebro não possui consciência, isso significa que ele não sabia que estava jogando. O que a pesquisa mostrou é que ele foi capaz de responder às exigências do jogo. Para isso, ele precisou ser conectado ao videogame por eletrodos. Isso fez com que o minicérebro soubesse onde a bola estava e a que distância.
O resultado foi considerado um sucesso e foi bem recebido por outros pesquisadores, porque, mesmo errando em alguns casos, a taxa de sucesso superou o que seria esperado para reação ao acaso.
Além disso, foi possível medir a energia gasta pelo minicérebro em cada ação. Conforme ele “compreendia” o que tinha que fazer e para onde a bola ia, menos energia era necessária. Porém, a cada vez que ele errava e precisava recomeçar, era necessário “compreender” novamente o jogo, gastando mais energia.
(Fonte: Unsplash)
Para desenvolver o minicérebro, a equipe precisou cultivar células cerebrais humanas. Isso foi feito com o uso de células-tronco e de embriões de camundongos. O minicérebro é formado por 800 mil células — para comparação, um cérebro humano possui 86 bilhões de neurônios.
O principal benefício dessa pesquisa é utilizá-la para evitar ou tratar doenças neurodegenerativas. Para isso, a próxima etapa é avaliar se o álcool tem algum efeito no desempenho do minicérebro com o Pong. A partir disso, será possível avaliar se ele é um bom material para pesquisas.
Outro cuidado da equipe é garantir que os minicérebros futuros se tornem mais complexos. Porém, isso pode fazer com que a pesquisa caia em um problema ético, caso um cérebro consciente seja criado.