Artes/cultura
12/11/2022 às 06:00•2 min de leitura
Na cidade de Griswold, Connecticut, um homem enterrado em um caixão com a identificação JB55 ficou incógnito por décadas. Ali, sem outras informações sobre sua identidade, estavam os restos mortais de um homem que viveu no século XVIII. Ele tinha tudo para ser apenas mais uma pessoa esquecida após algumas gerações, mas um detalhe chamava a atenção.
Em 1990, um grupo de arqueólogos estava realizando uma escavação no local e percebeu que o corpo de JB55 estava enterrado em uma posição curiosa: os ossos do fêmur estavam cruzados. No século XVIII, enterrar alguém assim era indício de que as pessoas acreditavam que ele era um vampiro. E hoje, passados dois séculos, a ciência conseguiu reconstruir o rosto daquele homem!
Os restos de JB55 usados na análise genômica. (Fonte: Parabon NanoLabs)
Uma equipe de cientistas forenses da Parabon NanoLabs, empresa de tecnologia de DNA, trabalhou em parceria com o Laboratório de Identificação de DNA das Forças Armadas dos EUA para tentar descobrir quem era o misterioso homem. O trabalho utilizando DNA dos restos esqueléticos foi o ponto de partida e também o primeiro problema na identificação.
Ossos não são a melhor fonte de material genético para a metodologia usada pela equipe. E a situação ficou ainda pior pelo tempo desde que ele faleceu. Quando os ossos envelhecem, eles se quebram e se fragmentam ao longo do tempo e, como se isso não bastasse, o DNA do ambiente, como o de bactérias e fungos, acaba contaminando a amostra.
Em um sequenciamento tradicional, cada pedaço do genoma costuma ser sequenciado 30 vezes. Esse processo é conhecido como “cobertura 30X” e serve para evitar que erros de leitura interfiram no resultado. Porém, no caso dos restos decompostos de JB55, o sequenciamento rendeu apenas cerca de 2,5X de cobertura.
A equipe tentou complementar o resultado, extraindo o DNA de um indivíduo enterrado nas proximidades. Eles acreditavam que esse segundo material pertencia a um parente de JB55. Porém, o resultado rendeu uma cobertura ainda pior, de aproximadamente 0,68X. O máximo possível a ser feito foi determinar se eles eram parentes de terceiro grau, ou primos em primeiro grau. O resultado da análise é a imagem que você pode ver abaixo.
O rosto reconstruído de JB55. (Fonte: Parabon NanoLabs)
Usando um software de reconstrução facial 3D, um artista forense determinou que JB55 provavelmente tinha pele clara, olhos e cabelos castanhos ou pretos, e algumas sardas. Ele também devia sofrer de tuberculose, o que poderia explicar a posição do corpo. No século XVIII, havia a crença de que pessoas que morriam de tuberculose eram, na verdade, vampiros.
Os pesquisadores suspeitam que em algum momento o corpo foi desenterrado e reenterrado — mais uma prática frequentemente associada à crença de que alguém era um vampiro. Essa suspeita explicaria os restos terem sido encontrados com os ossos do fêmur removidos e cruzados sobre o peito — seria uma maneira de impedir que a pessoa levantasse do túmulo e perseguisse os vivos.
Sobre a identidade de JB55, após analisar o seu DNA em um banco de dados genealógico online, acredita-se que ele era um homem chamado John Barber, um pobre fazendeiro local que faleceu aos 55 anos.