Artes/cultura
21/01/2023 às 08:00•2 min de leitura
No episódio Hated in the Nation, da terceira temporada da série Black Mirror, da Netflix, o espectador se depara com um enredo que flerta com uma possibilidade assustadora e muito próxima: a extinção das abelhas.
Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) mostram que na Europa e na América do Norte as abelhas estão desaparecendo. São 71 das 100 espécies que fornecem 90% dos alimentos do mundo por meio de polinização. Sem as abelhas, a disponibilidade e diversidade de produtos frescos, do café ao tomate, diminuiria vertiginosamente, significando um golpe severo na nutrição humana.
Como a série propõe no episódio, a alternativa seria recorrer a drones em formato de abelhas que não só se comportariam como os insetos para manter o mínimo equilíbrio na estrutura da natureza, como também ajudariam na nutrição humana.
O que poucas pessoas sabem é que, além de toda essa função na natureza, as abelhas podem gerar eletricidade.
(Fonte: Shutterstock)
A vida de uma abelha é um trabalho árduo e está associado à produção meticulosa e incansável de mel. Com o chamado "estômago de mel", uma bolsa separada no abdômen, o néctar das flores é armazenado até que possa ser transformado em mel por elas, que fazem isso passando-o entre si pela boca até atingir a consistência necessária.
Na década de 1950, quando o pesquisador brasileiro Dr. Warwick E. Kerr tentou cruzar abelhas africanas e europeias, na esperança de criar uma espécie mais resistente para produção de mais mel, ele acabou criando uma espécie de "monstro": a abelha assassina (ou abelha africanizada).
De aparência muito diminuta, mas capaz de criar colmeias em todos os tipos de áreas, a Apis mellifera scutellata é uma verdadeira força da natureza, capaz de causar a morte de alguém com seu ataque ordenado quanto produz eletricidade em um enxame profuso.
(Fonte: Netflix/Reprodução)
No estudo "Carga elétrica observada de enxames de insetos e sua contribuição para a eletricidade atmosférica", publicado em novembro de 2022, o pesquisador Ellard R. Hunting explicou que isso é possível graças ao efeito considerável que os insetos têm sobre a voltagem entre a superfície da Terra e um ponto acima dela. Isso faz parte de uma eletricidade inerente à atmosfera terrestre.
Essa voltagem é influenciada por todos os tipos de fatores, alguns naturais e outros não, como os causados pelos humanos, sendo que os insetos também têm um efeito considerável em sua alteração.
(Fonte: American Bee/Reprodução)
“Uma grande variedade de espécies de insetos transportados pelo ar demonstrou carregar uma carga elétrica”, escreveu Hunting no estudo. Apesar de essa energia estar em uma quantidade quase imperceptível, grandes enxames, como o de abelhas, podem ter um efeito poderoso.
Essa conclusão chegou a partir da observação de colmeias com um monitor de campo elétrico ao longo de inspeções feitas na Escola de Ciências Veterinárias da Universidade de Bristol.
Juntas, as abelhas possuem carga o suficiente para afetar a atmosfera em escala proporcional à densidade do enxame, devido à maneira como batem suas asas. Os gafanhotos em conjunto são outra espécie de inseto que têm potencial de alterar seu ambiente elétrico com uma magnitude comparável a eventos meteorológicos, como uma nuvem de tempestade.