Estilo de vida
15/04/2023 às 08:00•2 min de leitura
Um novo estudo realizado nas florestas da Nova Guiné por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Copenhague e do Museu de História Natural da Dinamarca revelou dois tipos de pássaros que desenvolveram a habilidade de armazenar um veneno poderoso em suas penas.
Os perigosos penudos em questão são das espécies Pachycephala schlegelii e Aleadryas rufinucha, que possivelmente conseguem gerar a substância por meio de uma dieta envolvendo alimentos com toxinas, como alguns tipos de besouros.
“Ficamos realmente surpresos ao descobrir que essas aves são venenosas, pois nenhuma nova espécie de ave venenosa foi descoberta em mais de duas décadas. Particularmente, porque essas duas espécies de aves são tão comuns nesta parte do mundo”, explica Knud Jonsson, coautor do estudo.
Um Aleadryas rufinucha. (Fonte: Robert Lewis/Birds of the World/Reprodução)
A substância gerada pelas duas espécies é a batracotoxina, uma neurotoxina comum em rãs da família Dendrobatidae. Incrivelmente poderosa, ela pode causar cãibras, paralisia e até mesmo parada cardíaca em altas concentrações.
Nos anfíbios, a presença desse veneno se deve a uma forma de proteção contra possíveis predadores. E embora no caso dos pássaros da Nova Guiné — que apresentam concentrações menores — o propósito ainda não esteja claro, talvez possa ser muito semelhante.
“Os habitantes locais não gostam de comida apimentada e evitam essas aves porque, segundo eles, a carne arde na boca como pimenta. Na verdade, foi assim que os pesquisadores começaram a tomar conhecimento delas. E a toxina pode ser sentida ao segurar uma delas. É meio desagradável, e ficar com uma por muito tempo não é uma opção atraente. Isso pode indicar que o veneno serve como dissuasor daqueles que gostariam de comê-las em algum grau”, explicou Jonsson.
O fofinho e letal Pachycephala schlegelii. (Fonte: Bradley Hacker/Birds of the World/Reprodução)
Na natureza, alguns animais são capazes de produzir toxinas em seus corpos, enquanto outros a absorvem de seus arredores. Esses pássaros da Nova Guiné se incluem na segunda categoria, porém mesmo com a presença de besouros venenosos em seus estômagos, a origem da batracotoxina em seus organismos em si ainda precisa ser determinada.
Quanto ao motivo de serem capazes de sobreviver com essa perigosa substância em suas penas, os pesquisadores decidiram avaliar utilizando como base os anfíbios tóxicos, que possuem modificações genéticas que impedem a neurotoxina de passar pelos canais de sódio e causar cãibras.
“Era natural investigar se as aves tinham mutações nos mesmos genes. Curiosamente, a resposta é sim e não. As aves têm mutações na área que regula os canais de sódio, o que esperamos que lhes dê essa capacidade de tolerar a toxina, mas não exatamente nos mesmos lugares que os sapos”, explica Kasun Bodawatta, o outro autor do estudo.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
Além de auxiliar na compreensão das espécies da Nova Guiné, o estudo também pode ter potencial para a população em geral. Isso porque a toxina vista nos pássaros é muito similar a outras, como, por exemplo, a que está ligada com a intoxicação por frutos-do-mar.
“Obviamente, não estamos em posição de afirmar que esta pesquisa descobriu o Santo Graal da intoxicação por frutos-do-mar ou problemas semelhantes, mas, no que diz respeito à pesquisa básica, é uma pequena peça de um quebra-cabeça que pode ajudar a explicar como essas toxinas funcionam nas células e no corpo. E como certos animais evoluíram para tolerá-las”, afirma Jonsson.