Estilo de vida
22/04/2023 às 10:00•3 min de leitura
Os residentes de São Francisco, nos Estados Unidos, não esperavam pelo que estava por vir no dia 11 de outubro de 1950. Embora o dia tenha amanhecido normal, com espessas camadas de neblina no outono, à tarde tornou-se perceptível que algo estava seriamente errado na região.
Somente naquela data, onze pessoas foram internadas no Stanford Hospital com crise de pneumonia, febre e infecções graves no trato urinário. Após uma série de estudos, foi revelado que o culpado pela epidemia era o Serratia marcescens, uma bactéria tão incomum que nenhum caso de infecção já havia sido registrado na história da cidade. E como essa crise foi instaurada? Entenda nos próximos parágrafos como o governo dos EUA e testes biológicos estiveram relacionados com a situação!
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Após os onze casos de infecção com a nova bactéria surgirem por São Francisco, não demorou muito para que a primeira fatalidade viesse. Apenas três semanas depois dos casos, o encanador aposentado Edward J. Nevin, de 75 anos, faleceu vítima de seus sintomas. Os médicos do hospital ficaram tão perplexos com esse grupo incomum de infecções que publicaram um relato em uma revista médica.
Para a surpresa de todos, mais nenhum caso de infecção apareceu nos meses seguintes. Logo, a situação foi descartada como um acaso. O que os habitantes de São Francisco não sabiam, no entanto, era que a neblina que pairou pela cidade no dia 11 de outubro nada tinha a ver com situações climáticas comuns do outono.
Estudos revelaram que trilhões de bactérias foram pulverizadas de um navio da marinha que estava navegando pela costa da região. O gás fazia parte de uma operação ultrassecreta chamada de Sea Spray, a qual visava testar a vulnerabilidade da cidade a um potencial ataque de guerra biológica soviética durante a Guerra Fria.
Embora os casos de São Francisco tenham sido os primeiros, a cidade da Califórnia não seria a única a passar por experimentos governamentais. Entre 1949 e 1969, as Forças Armadas dos EUA expuseram deliberadamente dezenas de cidades americanas e milhões de cidadãos comuns a bactérias e produtos químicos potencialmente perigosos — tudo para testar a segurança nacional.
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A guerra biológica é uma verdadeira preocupação da humanidade há muito tempo. Desde a prática medieval de catapultar cadáveres e ratos infectados em cidades sitiadas para espalhar doenças, bactérias e vírus se transformaram em armas para estratégias nada éticas de líderes políticos e militares.
No século XIX, cientistas como Robert Koch e Louis Pasteur deram um passo ainda maior. Eles descobriram microrganismos que causam doenças e como cultivá-los, o que acabou culminando no desenvolvimento de armas biológicas dedicadas. Na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha Imperial já havia desenvolvido um extenso programa nesse segmento.
Com o surgimento de armas como o fosgênio e gás mostarda, líderes políticos tiveram que colocar um ponto na situação em 1925, quando 146 países se reuniram para redigir o Protocolo de Genebra para a Proibição do Uso de Asfixiantes, Venenosos e Outros Gases, e de Métodos Bacteriológicos de Guerra. O tratado foi assinado por 38 nações, incluindo França, Grã-Bretanha, União Soviética, Japão e Estados Unidos, embora os dois últimos não o ratificassem até a década de 1970.
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A Segunda Guerra Mundial desestabilizou por completo o cenário político global. O ataque japonês a base militar norte-americana de Pearl Harbor em 1941, por exemplo, fez com que os Estados Unidos revertessem sua posição em relação à guerra biológica. No início de 1942, o secretário de Guerra dos Estados Unidos, Henry Stimson, expressou preocupação ao presidente Franklin D. Roosevelt em relação à vulnerabilidade dos Estados Unidos a ataques biológicos.
Foi assim que Roosevelt aprovou a criação de um programa americano de armas biológicas, que seria supervisionado pelo Serviço de Guerra Química do Exército dos EUA. Em 1945, o programa conseguiu produzir várias toneladas de patógenos armados, incluindo antraz e varíola — embora nunca tenham sido usados em combate.
Segundo a política do país, tais armamentos só poderiam ser usados como forma de retaliação ou para impedir ataques biológicos inimigos. O ápice da Guerra Fria criou um medo maior ainda nos norte-americanos, uma vez que a CIA descobriu a existência de um programa soviético de pesquisa de guerra biológica. Nesse sentido, os americanos achavam que não estavam preparados o suficiente e decidiram testar seus habitantes.
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Entre 1949 e 1969, as Forças Armadas dos EUA conduziram um total de 239 experimentos de guerra biológica ao ar livre em 66 cidades norte-americanas e canadenses. Em 80 desses casos, bactérias vivas foram utilizadas. O programa só foi interrompido porque o presidente Richard Nixon pediu para que todo o estoque de agentes de guerra biológica dos Estados Unidos fosse eliminado até 1973.
Embora o Exército dos EUA acreditasse que os simuladores de guerra biológica eram inofensivos para os humanos, os estudos mostraram que quantias grandiosas de certas bactérias podem gerar infecções graves em seus habitantes. Apesar de algumas queixas terem sido registradas contra o governo norte-americano na justiça, nenhum cidadão infectado por tais bactérias teve causa ganha declarada.
Estima-se que, atualmente, todo o conhecimento obtido sobre as guerras biológicas pelos Estados Unidos sejam usados apenas para meios defensivos. Contudo, o país parece pronto para não medir esforços caso tenha sua soberania ameaçada.