Ciência
27/04/2023 às 13:00•2 min de leitura
Você já ouviu falar em paleofezes? Até escrever esse artigo, eu também não sabia o que era isso. Mas o conceito é bem simples de entender: as fezes são aquelas mesmas que você está pensando e o prefixo "paleo" significa "antigo". Ou seja, é cocô da antiguidade.
Tem cientista estudando isso para descobrir como a gente se alimentava há milhares de anos — e, por mais inusitado que pareça esse método, os resultados foram bem interessantes.
Um artigo recente, publicado na revista científica Current Biology, descreve as descobertas feitas sobre quatro amostras paleofecais da Idade dos Metais (por volta de 3300 até 1000 a.C.). O trabalho é do Instituto para Estudos de Múmias, com o Museu de História Natural de Viena e a Universidade de Trento.
A partir do estudo, não apenas foi possível saber que os humanos já consumiam cerveja e queijo naquela época, como também concluir que nossa microbiota intestinal mudou muito desde então. Aliás, o trabalho foi inovador no uso da microbiologia para examinar amostras pré-históricas.
O pesquisador Frank Maixner, do Instituto para Estudos de Múmias, explica que as amostras paleofecais estudadas por ele foram retiradas de minas de sal, na Áustria. Como as pessoas trabalhavam lá o dia todo, elas comiam e faziam suas necessidades ali mesmo.
Com milênios de pressão e desidratação (pelo sal), as fezes foram dissecadas e se tornaram como fósseis, super preservados — e sem fedor, vale dizer. Desse modo, foi possível estudar as moléculas presentes no cocô nos mínimos detalhes.
Exemplos de paleofezes estudadas por arqueólogos. (Fonte: Heritage Daily)
Maixner e sua equipe descobriram que os mineradores gostavam muito de queijos azuis, com fungos, como o gorgonzola ou roquefort. Mas também encontrou traços de cerveja e chegou a um palpite de qual especialidade era: pale ale.
Isso porque eles encontraram o fungo Saccharomyces cerevisiae, que é a levedura de cerveja, nas amostras paleofecais. Assim, eles eliminaram lagers e outras cervejas que são produzidas com fermentação espontânea. O palpite faz sentido, já que a pale ale é mais fácil de conservar sem refrigeração e combina com as amostras encontradas.
Ou seja, alimentos que consumimos até hoje e que demandam técnicas de fermentação, como queijos azuis e cerveja, já existiam há 2.700 anos. Isso já é uma descoberta e tanto.
Porém, as amostras paleofecais também trazem descobertas interessantes para nós, humanos modernos. O estudo indica que os mineradores se alimentavam de fibras e grãos integrais — e tinham uma microbiota muito mais rica do que a nossa.
"Nosso intestino é um músculo, então precisa ser treinado", afirma Maixner. Com o surgimento dos alimentos processados, nosso intestino foi treinado para se esforçar menos e a microbiota se tornou menos diversa. Essa é uma grande descoberta, pois comprova algo que a ciência já tinha como hipótese. E você achando que esse estudo era uma m...