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08/08/2023 às 04:00•2 min de leitura
Atualmente, é comum encontrar pessoas que tenham um ou outro dente torto e precisem de aparelhos para contornar a situação. Tais intervenções são processos recentes que datam do século XVIII para cá, o que pode levar muitos a imaginar como as coisas funcionavam na pré-história.
Acredite ou não, a dentição de nossos antepassados era melhor que a vista atualmente, já que muitos crânios encontrados por arqueólogos geralmente apresentam dentes retos e aparentemente bem cuidados. E aí mora uma pergunta: como isso era possível?
Um dos primeiros pontos a se observar é que o problema na dentição não é algo exclusivo de anos mais recentes, visto que alguns poucos séculos atrás já era possível encontrar falhas no alinhamento dos dentes, além de outros pontos que demandavam um pouco mais de atenção.
(Fonte: GettyImages)
“O museu em que trabalho tem milhares de crânios antigos de todo o mundo. A maioria dos crânios dos últimos cem anos é o pesadelo de um dentista: eles estão cheios de cáries e infecções, os dentes estão apinhados na mandíbula e cerca de um quarto deles tem dentes impactados”, explica o biólogo evolucionista Daniel Lieberman, em seu livro A História do Corpo Humano.
“Os crânios dos agricultores pré-industriais também estão cheios de cáries e abscessos de aparência dolorosa, mas menos de 5% deles afetaram os dentes do siso. Em contraste, a maioria dos caçadores-coletores tinha saúde dental quase perfeita. Aparentemente, ortodontistas e dentistas raramente eram necessários na Idade da Pedra”, continua o estudioso.
Tal fato foi confirmado pelos ortodontistas Sandra Kahn e Paul R. Ehrlich, da Universidade de Stanford, nos EUA. Em um artigo publicado no Stanford Univeristy Press, eles explicam que, após a análise de 146 crânios encontrados em cemitérios noruegueses e uma comparação com crânios modernos, foi possível perceber que parcelas da população antiga já precisavam da ajuda de dentistas.
Ao fazer esse levantamento, os profissionais perceberam que 36% dos crânios medievais e 65% das amostras mais recentes apresentavam uma necessidade "grande" ou "óbvia" de tratamento dentário, algo que não acontecia entre aqueles que habitavam a Terra há milhares de anos. E a resposta para isso está no tamanho das mandíbulas.
(Fonte: GettyImages)
“Para um desenvolvimento saudável, as mandíbulas devem ser capazes de fornecer espaço suficiente para todos os trinta e dois dentes que crescem na boca. Com o tempo, nossos dentes ficaram tortos porque nossas mandíbulas ficaram menores”, diz o artigo.
“As raízes da epidemia estão em mudanças culturais em ações cotidianas importantes sobre as quais raramente pensamos; coisas como mastigação, respiração ou a posição de nossas mandíbulas em repouso, e essas mudanças, por sua vez, foram provocadas por desenvolvimentos sócio-históricos muito maiores – a saber, a industrialização”, continua o texto.
A descoberta de alguns recursos, como a possibilidade de produzir fogo com o auxílio de duas pedras, foi um dos fatores que fez com que exercitássemos menos a nossa mandíbula.
Com a possibilidade de cozinhar os alimentos, perdeu-se a necessidade de termos uma mordida mais forte para conseguir rasgar carnes cruas e até mesmo diminuiu o número de mastigadas nesse processo.
O advento da agricultura também tem influência nesse processo, já que a popularização de outros alimentos mais leves que a carne fizeram nossas bocas perderem parte de suas funções, como triturar os alimentos. Porém, isso nem de longe significa que devemos voltar a comer alimentos crus para termos dentes mais alinhados.