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14/08/2023 às 06:30•2 min de leitura
Doze bisões-americanos (Bison bison bison) desembarcaram no mês de julho no Parque Natural Ingilor, uma imensa área de proteção ambiental, com área superior a 900 mil hectares, localizada no distrito autônomo de Yamal-Nenets, a segunda maior divisão administrativa da Rússia, localizada no extremo norte do país.
Os grandes bovídeos foram comprados em um viveiro de animais na Dinamarca, e fizeram uma jornada de 8 mil quilômetros em veículos rodoviários de carga até o parque. Alojados em uma área próxima ao posto de guarda-florestal, os novos residentes estão sendo monitorados por funcionários e deverão ser liberados em breve, por enquanto em pastagens cercadas.
Ao introduzir bisões no Ártico russo, os cientistas esperam que esses animais assumam o papel dos extintos mamutes-lanosos, e ajudam a restaurar os antigos ecossistemas. “O búfalo pode se adaptar facilmente ao Ártico porque, historicamente, lá é o seu habitat natural”, afirmou em comunicado o Departamento de Recursos Naturais e Meio Ambiente do Yamal-Nenets.
(Fonte: GettyImages)
Durante o período Pleistoceno, entre 2,6 milhões a 11,7 mil anos atrás, bisões-da-estepe (Bison priscus) e mamutes-lanosos percorriam as vastas e frígidas pradarias dos chamados Urais Polares. No entanto, a maioria desses herbívoros foi extinta no final da era glacial, quanto o clima se tornou mais quente e as planícies cobertas de gramíneas foram substituídas por arbustos e árvores.
De acordo com Mary Edwards, professora emérita de geografia física da Universidade de Southampton, no Reino Unido, entrevistada pela Live Science, "o ecossistema do Pleistoceno não tinha árvores e tinha solos bastante espessos". Mas, ao longo do tempo, essas paisagens foram congeladas pelo permafrost e se transformaram em "uma grande pilha de carbono".
Dessa forma, os herbívoros que eventualmente se arrastavam por essas planícies geladas reformataram a paisagem apenas pastando e reciclando nutrientes. "É um ótimo ciclo de esterco animal fertilizando o solo e permitindo que as plantas cresçam", explica Edwards. "O pensamento é que os animais conservaram o ecossistema", conclui.
(Fonte: RIA Novosti)
Para testar essa hipótese de que a introdução de grandes herbívoros, como o bisão-americano, poderia restaurar a antiga paisagem do Plestoceno, projetos de restauração vêm sendo implantados na Rússia.
Em um desses projetos — o chamado Parque Pleistoceno, instalado na unidade administrativa russa de Yakutia —, o diretor Nikita Zimov tem trazido bisões desde 2019. Somente neste ano, Zimov já comprou uma manada de 24 bisões, e deu metade deles ao Parque Natural de Ingilor em troca de 14 bois-almiscarados (Ovibos moschatus).
A princípio cética em relação aos projetos, pois entende que o clima atual não é propício para esses herbívoros, a professora Edwards classifica a tentativa atual como "uma ideia muito interessante". Além disso, cogita: "Há definitivamente uma janela para a reintrodução de alguns dos grandes animais perdidos do Pleistoceno".