Artes/cultura
04/09/2023 às 04:00•2 min de leitura
Um encontro de fêmeas de tubarões-martelo semelhante a um ritual foi analisado por uma equipe de biólogos de diversas instituições do mundo. A reunião das representantes da espécie ameaçada Sphyrna mokarran ocorre todos os anos, nas águas tropicais do arquipélago de Tuamotu, na Polinésia Central, durante o verão austral, entre dezembro e março, e sob a luz da lua cheia.
Com o uso de fotoidentificação e fotogrametria a laser, o estudo registrou o deslocamento dessa população sazonal até seus encontros na passagem de Tiputa (atol de Rangiroa) e na passagem de Tuheiava (atol de Tikehau). Os dois atóis, separados por 15 quilômetros têm forma de anel e possuem a característica lagoa central formada pelo afundamento da terra abaixo do nível do mar.
Nesses locais, os pesquisadores registraram, nos verões de 2020 e 2021, 54 fêmeas de tubarões-martelo e uma cujo sexo não pôde ser determinado. Dessa população, mais da metade era de visitantes sazonais que passavam lá até seis dias por mês, durante até cinco meses.
Every year, dozens of female hammerhead sharks mysteriously convene in French Polynesia under the full moon
by u/MotherParty4079 in SharkLab
Todas as fêmeas medidas eram presumidamente maduras e tinham comprimentos pré-caudais entre 1,47 m e 2,97 m. Vídeos gravados por cientistas cidadãos entre 2006 e 2019 permitiram a identificação de mais 30 indivíduos, todos “com fortes evidências de segregação sexual durante o ano”, diz o estudo.
O que chamou a atenção dos pesquisadores foi o elevado número de fêmeas avistadas ao mesmo tempo de uma espécie reconhecidamente solitária. Isso indicou que os atóis de Rangiroa e Tikehau poderiam ser um local de agregação, devido a fatores externos, possivelmente ligados ao ciclo lunar e à presença de raias-águia oceladas (Aetobatus ocellatus), concluiu o estudo.
O principal ponto de encontro das fêmeas de tubarões foi um local chamado “planalto cabeça-de-martelo” próximo ao atol de Rangiroa. Sem ter provavelmente qualquer tipo de relação entre si, elas foram avistadas vagando principalmente pela parte inferior do planalto de 45 a 60 metros de profundidade, de acordo com os autores do artigo.
(Fonte: Boube et al.)
No artigo publicado recentemente na revista Frontiers in Marine Science, os investigadores explicam o pico de número de tubarões fêmea nos dias anteriores e imediatamente posteriores à lua cheia durante os dois verões. Para eles, o aumento da luz da lua facilita a capacidade de caça dos animais à noite, em volta dos atóis.
Outras explicações possíveis foram: mudanças no campo geomagnético da Terra conforme as fases da lua, o aumento da temperatura da água após meses de inverno, mas principalmente a grande concentração de raias-águia oceladas entrando nas lagoas para se reproduzir. Para as fêmeas de tubarão-martelo, o evento se transforma em um banquete.