Artes/cultura
19/09/2023 às 04:00•2 min de leitura
Você já ouviu falar no "Dilema do Trem"? Esse desafio hipotético fala sobre um trem fora de controle que está prestes a passar por um cruzamento nos trilhos. Se o bonde continuar na mesma direção, ele matará cinco pessoas. Contudo, você (espectador) pode salvar essas pessoas ao puxar uma alavanca que enviará o carrinho para outro trilho.
O segundo caminho, no entanto, possui uma pessoa que certamente morrerá por conta de sua decisão. Então, o que deve ser feito? Salvar mais pessoas, mas ter o peso na consciência de ter matado alguém que ficaria vivo, ou deixar cinco pessoas serem atropeladas? De acordo com uma vertente filosófica, pessoas alcoolizadas tendem a escolher a primeira opção, algo que ficou conhecido como "utilitarismo bêbado". Entenda!
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(Fonte: Wikimedia Commons)
Como é possível notar, o "Dilema do Trem" é um desafio complicado concebido para testar o nosso pensamento e raciocínio ético. Em muitos casos, o resultado que as pessoas escolhem depende da história que envolve o problema, tal qual se os personagens envolvidos representam alguém específico no mundo.
Porém, o ponto principal é saber se um indivíduo deve causar danos minoritários para a existência de um "bem maior" — o que é a essência do conceito filosófico do utilitarismo. E o que motiva essa escola de pensamento? Isso é o resultado de uma capacidade maior de raciocínio deliberado ou resultado de uma diminuição da aversão a prejudicar os outros?
Para investigar essa questão, dois investigadores examinaram 103 homens e mulheres bêbados em 2015 para entender como o álcool impactava nesse pensamento. A hipótese inicial era de que altas concentrações de álcool no sangue eram responsáveis por um aumento de respostas utilitárias a respeito do dilema.
(Fonte: Getty Images)
Apesar da hipótese inicial traçada em 2015, estudos mais recentes não encontraram qualquer tipo de correlação entre o consumo de álcool e respostas utilitárias em uma réplica do experimento feito no passado. Na visão de Mariola Paruzel-Czachura, autora da releitura, o trabalho anterior incluía limitações como níveis baixos ou inconsistentes de álcool consumido e ausência de um grupo placebo.
Para abordar essas preocupações, Paruzel-Czachura e seus colegas recrutaram 329 participantes, divididos igualmente entre homens e mulheres com idades de 18 a 52 anos. Os participantes, então, foram separados em três grupos: 106 receberam álcool; 144 eram o grupo de controle com placebo; e 109 foram informados de que não estavam ingerindo álcool.
Em seguida, os participantes foram solicitados a completar uma série de 48 dilemas semelhantes ao "Dilema do Trem". Finalmente, os participantes completaram um teste de reflexão cognitiva (CRT), que foi concebido para “identificar os efeitos potenciais do álcool na reflexão cognitiva e explorar se os efeitos do álcool nos julgamentos morais são mediados por diferenças na reflexão cognitiva”, explicaram os autores.
O resultado não mostrou qualquer associação significativa do consumo de álcool com a preferência pelo utilitarismo. Sendo assim, todo o conceito de "utilitarismo bêbado" passou a ser questionado, o que também levanta uma série de outras questões sobre a influência que o álcool tem na tomada de decisões morais. Segundo os cientistas, mais estudos serão necessários no futuro para a compreensão total do tema.