Embriões de galinha com 'rosto de dinossauro' são criados pela primeira vez em laboratório

04/06/2024 às 12:282 min de leituraAtualizado em 04/06/2024 às 15:47

Através de apenas alguns ajustes genéticos, cientistas recentemente deram a alguns embriões de galinha uma grande transformação facial — devolvendo a eles focinhos semelhantes aos de dinossauros em vez de bicos semelhantes aos dos pássaros. 

O estudo, publicado na revista Nature, não faz parte de um esquema para ajudar os dinossauros a caminhar pela Terra novamente, mas sim uma maneira peculiar encontrada pelos cientistas para tentar entender melhor como os "grandes lagartos" que um dia dominaram nosso planeta evoluíram para as pequeninas criaturas cheias de penas que estão presentes em fazendas pelo mundo todo. 

Formação dos bicos

(Fonte: Bhart-Anjan Bhullar/Divulgação)(Fonte: Bhart-Anjan Bhullar/Divulgação)

Em termos simplificados, a transição dos dinossauros para pássaros foi algo bem complicado. Afinal, nenhuma característica anatômica específica distinguiu as primeiras aves de seus ancestrais dinossauros carnívoros.

Porém, nos estágios iniciais da evolução dos pássaros, os ossos que formavam o focinho dos répteis — chamados de pré-maxila — cresceram e se uniram para produzir o que hoje chamamos de bico. “Em vez de dois pequenos ossos nas laterais do focinho, como todos os outros vertebrados, ele foi fundido em uma única estrutura”, diz Bhart-Anjan Bhullar, paleontólogo atualmente na Universidade de Chicago e coautor do novo estudo.

De acordo com Bhullar, as aves vivas oferecem algumas das melhores pistas que os investigadores têm sobre como os dinossauros podem ter vivido, se movido, comido e criado seus filhotes. Além disso, a transição do focinho para o bico é uma das partes mais radicalmente diferentes dentro do esqueleto aviário.

Voltando no tempo

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Antes de se aprofundarem a respeito da vida dos dinossauros, os pesquisadores tiveram que descobrir o que realmente é um bico. Para isso, a equipe de estudo analisou o desenvolvimento embrionário do bico em galinhas e emas, além do desenvolvimento do focinho em crocodilos, lagartos e tartarugas.

Eles identificaram duas proteínas que direcionam o desenvolvimento do rosto dessas espécies. Enquanto as proteínas FGF e Wnt eram mais presentes em duas pequenas partes na evolução da face embrionária dos répteis, essas mesmas proteínas foram ativadas em uma grande faixa de tecido no desenvolvimento das aves.

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Para testar se essa diferença na atividade proteica era realmente fundamental no desenvolvimento do bico, os cientistas passaram a restringir as proteínas aos dois pontos vistos no desenvolvimento da face dos répteis em embriões de galinha. Os filhotes nunca eclodiram, mas as diferenças vistas em laboratório eram perceptíveis.

Essas galinhas haviam desenvolvido uma aba de pele no lugar dos bicos, além de ossos mais curtos e redondos do que os bicos longos e fundidos das aves. Na visão dos estudiosos envolvidos na pesquisa, isso prova que os bicos são o resultado de uma adaptação real causada pela natureza, e não apenas um formato de nariz ligeiramente diferente.

No futuro, os pesquisadores deverão analisar cuidadosamente o ponto de vista ético para saber até que ponto eles poderão retroceder no relógio biológico dos pássaros para entender mais sobre seus antepassados.

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