1 litro de água pode abrigar 240 mil pedaços de microplásticos, comprova estudo

11/01/2024 às 06:302 min de leitura

A poluição plástica se torna, dia após dia, uma catástrofe ambiental cada vez maior. Polímeros sintéticos resistentes que compõem o plástico permitem que ele permaneça na natureza por algum tempo — com consequências devastadoras. Mas, ainda mais desastroso do que os detritos visíveis, o problema muitas vezes está invisível aos nossos olhos: os microplásticos e nanoplásticos.

Esses pedaços pulverizados de material são tão pequenos que podem se infiltrar em espaços minúsculos, inclusive em nossos corpos e células. Agora, um novo estudo, publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences, relata uma técnica de detecção de plásticos que foi capaz de encontrar uma média de 240 mil partículas de microplásticos em um único litro de água engarrafada.

Perigos dos microplásticos

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

A descoberta recente feita pelos cientistas ilumina a verdadeira presença dos microplásticos espalhados pelas nossas casas e vidas. Afinal, cada vez que pisamos em um tapete sintético, abrimos um recipiente de plástico, giramos os pneus de nossos carros ou lavamos nossas roupas, há uma boa probabilidade de estarmos liberando milhares de micro e nanoplásticos invisíveis a olho nu.

Todos esses detritos podem escorregar para os cursos de água, entrar nos nossos pulmões e acabar nos nossos estômagos por meio de alimentos e bebidas. O pouco que se sabe até agora é que os nanoplásticos podem agravar o sistema imunológico dos seres humanos, interferir no metabolismo do corpo e incitar as células à autodestruição. Em ratos, essas substâncias aumentam o risco da doença de Parkinson, perturbam o desenvolvimento fetal e infiltram-se no cérebro.

Por conta disso, pesquisadores da Universidade de Columbia decidiram criar um novo método para detectar esses minúsculos materiais. Para testar a capacidade do novo método de encontrar nanopartículas, o autor do estudo Wei Min decidiu recorrer à água engarrafada. Com a nova ferramenta, o grupo de Min descobriu que cada litro desse líquido continha algo entre 110 mil e 370 mil partículas — sendo 90% nanoplásticos. Esse número é substancialmente superior às estimativas prévias realizadas em estudos de 2018, o qual previam cerca de 10 mil partículas por litro.

Expectativa para o futuro

(Fonte: GettyImages)(Fonte: Getty Images)

Os cientistas identificaram diferentes tipos de plástico na água engarrafada. Por exemplo, o terefltalato de polietileno (PET) muitas vezes aparecia como fragmentos grossos do tamanho de um micrômetro, provavelmente descartados das próprias garrafas. Já os nanoplásticos, que são ainda menores que os microplásticos, provavelmente surgiram durante os primeiros estágios da produção de água engarrafada e se desintegraram ainda mais após o processamento adicional.

Os pesquisadores esperam que os resultados do estudo possam um dia ser usados para orientar estratégias de redução de micro e nanoplásticos no tratamento de água. Pela primeira vez na história, o novo método abre portas para o estudo desses materiais na natureza e não apenas em ambientes idealizados em laboratório.

Até então, poucos países realizam supervisão federal sobre microplásticos, muito menos nanoplásticos. Em 2022, a Comissão Europeia proibiu aditivos de microplásticos em produtos de consumo para reduzir a quantidade que inadvertidamente seria jogada na natureza. As estimativas, no entanto, sugerem que milhões de toneladas de partículas já estão espalhadas pela Terra e causando danos invisíveis. 

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