Artes/cultura
24/07/2024 às 20:00•3 min de leituraAtualizado em 24/07/2024 às 20:00
É bem provável que você tenha ouvido falar do ornitorrinco quando ainda era criança. Com a fama de ser o "mamífero mais estranho do mundo", o animal australiano fascina por sua aparência inusitada: ele lembra um pouco um castor, mas tem bico de pato, põe ovos e alimenta os filhotes ao "suar" o leite no seu corpo.
Descoberto por pesquisadores europeus no final do século XVII, esta criatura segue intrigando pessoas por conta de suas características bem peculiares, e que parecem fugir da lógica da natureza. Tanto que o ornitorrinco continua sendo objeto de estudos até hoje.
O ornitorrinco macho carrega esporões cheios de veneno em suas patas traseiras. Eles são ligados a uma glândula sudorípara que gera esse líquido, pernicioso para algumas espécies. Há indícios de que o veneno seja usado para que os machos compitam entre si na temporada de reprodução.
Para os humanos, o veneno não é fatal, mas pode causar uma dor bastante forte, e que não é amenizada nem com morfina. Cientistas australianos descobriram recentemente que este material contém um hormônio chamado de GLP-1, que pode ser eficaz no tratamento da diabetes. Isso porque ele promove a liberação de insulina, diminuindo os níveis de glicose no sangue.
O ser humano também produz esse hormônio, mas ele se degrada bem rapidamente, enquanto o do ornitorrinco é mais duradouro. Por conta disso, este veneno pode apontar a um caminho de criação de novos remédios para essa doença.
Outro fato bastante estranho sobre esse bicho é que a fêmea consegue amamentar os filhotes, mas não possui mamilos. Nesse sentido, o ornitorrinco difere de todas as outras espécies de mamíferos, que produzem leite por meio de uma glândula mamária e o excretam por um ou mais mamilos.
Contudo, o ornitorrinco fornece a nutrição aos seus bebês de maneira levemente diferente: ele "sua" o leite por meio de algumas glândulas especiais que possui na pele. Assim, o líquido se acumula na sua barriga, onde os filhotes o sorvem.
A gente aprende na escola que a maior parte dos mamíferos tem dois cromossomos sexuais: XX para fêmeas ou XY para machos. Só que o ornitorrinco também é inusitado nesse aspecto. Assim como as equidnas, ele possui nada menos que cinco pares diferentes de cromossomos sexuais, ou 10 no total.
Os machos têm cinco combos XY, enquanto as fêmeas têm cinco combos XX. Aliás, seus cromossomos X e Y são mais semelhantes aos cromossomos W e Z de pássaros do que os dos humanos.
Por fim, há outra característica peculiar neles: a fêmea do ornitorrinco tem dois ovários, mas apenas o da esquerda é que funciona normalmente, liberando óvulos.
Por essa, você certamente não esperava. Mas saiba que, quando colocado sob uma luz UV (também chamada de luz negra), o ornitorrinco simplesmente se ilumina com um brilho azul-esverdeado.
O fenômeno é chamado de biofluorescência, e é compartilhado com outros mamíferos, como as lebres da mola africanas e o morcego-fantasma-grande. Ninguém sabe ao certo como eles fazem isso, mas é uma característica realmente incrível.
Em 1790, o botânico e zoólogo britânico George Kearsley Shaw, que era curador do Museu de História Natural de Londres, recebeu de presente um cadáver de ornitorrinco. Embora ele já tivesse cruzado com animais estranhos ao longo de sua vida, Shaw nunca havia visto algo tão exótico quanto aquilo.
Como bom cientista que era, ele ficou procurando por sinais da "farsa", como pontos de remendo no corpo do animal. Em uma publicação de 1799, o zoólogo escreveu: "é naturalmente excitante a ideia de uma preparação enganosa por meios artificiais".
Entretanto, como não encontrou nada que concretizasse a sua suspeita, Shaw finalmente concluiu que se tratava de uma espécie real. Mas ainda levaria quase cem anos desde aquele momento para que os cientistas europeus finalmente concordassem que aquele mamífero era capaz de colocar ovos.
Embora a cauda do ornitorrinco lembre a dos castores, ela é mais usada para uma função diferente do que a natação. Prioritariamente, ela serve para guardar metade da gordura do corpo do animal, consumida no caso de falta de comida. Já a fêmea consegue usar o rabo para segurar os ovos enquanto eles são incubados em seu corpo.