Ciência
03/09/2024 às 12:00•2 min de leituraAtualizado em 03/09/2024 às 12:00
As memórias são algo que evolui ao longo de nossas vidas, sendo transformadas ao passo que aprendemos e vivenciamos coisas novas. Isso, por consequência, afeta a maneira como nos lembramos de alguma coisa — sobretudo se revisitamos essa memória repetidamente. E para completar, as memórias também se degradam conforme envelhecemos.
No passado, pesquisadores pensavam que essa maleabilidade era o resultado de mudanças nas nossas células cerebrais que codificam as memórias. No entanto, um novo estudo feito em camundongos sugere que o cérebro armazena pelo menos três cópias de uma determinada memória, codificando-a em vários lugares do órgão. Por conta disso, nossas lembranças seriam tão voláteis.
De acordo com o novo estudo publicado na revista Science, cada cópia das nossas memórias são codificadas por diferentes grupos de neurônios no hipocampo — a região do cérebro crítica para o aprendizado e a memória. As cópias, então, variam em termos de quando são criadas, quanto tempo duram e quão modificáveis são ao longo do tempo.
Os investigadores mostraram em seus experimentos que, à medida que os camundongos codificam novas memórias, eles primeiro criam os chamados neurônios nascidos precocemente. Esses neurônios são responsáveis por armazenar uma cópia de longo prazo da memória que é inicialmente fraca, mas se torna forte com o tempo.
Em seguida, existem os neurônios de "meio termo". Eles são mais estáveis desde o começo, diferente dos neurônios de nascimento tardio, que codificam cópias muito fortes de uma memória desde o início, mas perde força com o tempo. A maneira como esses três grupos de neurônios operam em diferentes escalas de tempo pode ajudar a explicar como o cérebro regula as memórias ao longo do tempo, sugeriram os autores do estudo.
Conforme observado pelos cientistas, as memórias armazenadas pelos neurônios nascidos tardiamente eram mais plásticas ou maleáveis do que aquelas criadas por neurônios nascidos cedo. Isso sugere que, no início da formação de uma lembrança, as informações armazenadas permanecem razoavelmente estáveis ao longo do tempo enquanto as memórias armazenadas mais tarde são facilmente distorcidas por novas informações.
Caso o mesmo fenômeno aconteça em humanos, essa descoberta levaria ao desenvolvimento de novas terapias para transtornos específicos, como o transtorno de estresse pós-traumático. No caso de pessoas com perda de memória devido à demência, outros remédios poderiam estimular a atividade de neurônios nascidos precocemente para combater a doença.
Em declaração oficial, o coautor do estudo e professor assistente de neurobiologia da Universidade de Base, Flavio Donato, destacou que a ciência agora tem um ponto de entrada biológico para modular a plasticidade das memórias de uma forma que pode nos permitir torná-las menos maleáveis.