Com as mudanças climáticas, o sabor de muitos alimentos tende a mudar

Os problemas envolvendo as mudanças climáticas também atingem os alimentos que consumimos, e alguns efeitos já são percebidos aqui no Brasil. O azeite de oliva, por exemplo, é encontrado nos supermercados por um preço 44% acima do considerado normal devido à redução da safra. E nem sequer há perspectiva de melhora para os próximos anos.

Até mesmo o chocolate parece estar ameaçado, e diante de resultados negativos das últimas safras na África, o valor do cacau disparou no mercado internacional. A preocupação é que a produção fique mais cara devido à dificuldade de cultivar o alimento enquanto pragas e condições climáticas desfavoráveis se tornem mais recorrentes. Em março deste ano, o valor do cacau foi superior ao do cobre.

Mas além dessas oscilações repentinas que afetam toda a cadeia, ainda há outro fator a ser considerado dentro dessa problemática: o risco de perda do sabor dos alimentos devido ao aquecimento global. Ou seja, a questão vai muito além do aumento de pragas, incêndios florestais e de estiagem.

Como a variação de temperatura diária influencia no sabor do morango

A prática do plantio é muito mais complexa e cheia de nuances do que aparenta ser. Afinal, não se trata apenas de manter uma espécie em um solo adequado, com luz e água. Há muitos detalhes observados nesse processo, que passam do preparo da terra até o transporte do alimento pronto para consumo.

Mas na medida que as médias de temperatura aumentam, há espécies que sequer conseguem se reproduzir adequadamente. Como exemplo disso, temos a uva, usada para a produção de variados tipos de vinhos. Diante da dificuldade de manter toda a produção no sul da Europa, os viticultores estão, gradativamente, migrando o cultivo para áreas mais ao norte do continente.

E assim como a uva é bastante sensível, o morango apresenta um problema similar, já que a fruta também é cultivada em períodos específicos do ano. Mais do que isso: segundo um artigo publicado na revista Agronomy, a variação de temperatura atuante durante o plantio influencia o sabor que o morango apresenta quando fica maduro.

Pesquisadores notaram que a combinação de dias quentes com noites mais amenas exerceu um efeito bastante positivo no desenvolvimento da fruta. E como consequência dessa variação diária, os morangos apresentaram um sabor mais doce. Para chegar a essa conclusão, estudiosos avaliaram os morangos cultivados nos Estados Unidos.

Valor nutricional dos alimentos também é afetado pelas temperaturas elevadas

Inclusive, a presença de temperaturas mais elevadas quando o morango estava próximo do amadurecimento prejudicava o desenvolvimento. O que fica claro é como o cultivo da fruta impacta não apenas no rendimento, mas nas propriedades que ela apresenta. E essa relação entre temperatura e sabor é mais íntima do que imaginamos.

Naturalmente, tais efeitos também afetam o valor nutricional dos alimentos. O trigo, por exemplo, quando exposto a temperaturas mais elevadas, sofre uma redução na concentração de amido, que é considerada uma fonte de energia. Com as maçãs, as temperaturas mais elevadas parecem encurtar a floração de algumas variedades, de modo que os frutos tenham seu desenvolvimento interrompido antes de ficarem maduros.

Ou seja, se alimentar de forma adequada já é bastante desafiador, e se as dificuldades para o cultivo dos vegetais aumentarem, ficará ainda mais caro ter refeições de qualidade em nossa cozinha. De certa forma, isso remete ao problema da escassez de alimentos que Malthus relatava em meio às suas preocupações com o aumento populacional, e que acabou não se concretizando, já que a tecnologia impediu esse cenário.

Mas agora, embora existam técnicas capazes de alterar algumas propriedades genéticas dos alimentos e mesmo de permitir o seu cultivo em condições desfavoráveis, temos uma variável climática atuando em um ritmo elevado e encarecendo a produção.