Um acorde específico no piano pode acabar com pesadelo, diz a ciência

09/11/2024 às 21:003 min de leituraAtualizado em 09/11/2024 às 21:00

Pesadelos frequentes não são apenas sonhos ruins; eles podem arruinar a qualidade do sono e impactar o bem-estar emocional. Para as 36 pessoas que participaram de um estudo conduzido por cientistas suíços, a solução veio em um formato curioso: a combinação entre reescrever os sonhos e um acorde específico de piano. 

Ao aplicar uma técnica chamada Reativação de Memória Direcionada (TMR, na sigla em inglês), os pesquisadores queriam testar a hipótese de que tocar um som específico durante o sono ajudaria a fixar memórias associadas a uma versão mais positiva dos pesadelos. Surpreendentemente, a teoria se mostrou eficaz, e a frequência dos pesadelos diminuiu drasticamente.

Para entender a eficácia dessa abordagem, é importante conhecer o método utilizado pelos cientistas. 

Misturando técnicas

Pesadelos podem acabar com seu sono, o que é muito ruim para saúde se for recorrente. (Fonte: GettyImages/ Reprodução)
Pesadelos podem acabar com seu sono, o que é muito ruim para saúde se for recorrente. (Fonte: Getty Images/ Reprodução)

Os participantes foram incentivados a praticar a Terapia de Ensaio de Imagens (IRT, na sigla em inglês), uma técnica que envolve reescrever os sonhos mais angustiantes com finais mais agradáveis. A ideia é que, ao criar uma narrativa mais positiva, o cérebro possa processar melhor as emoções associadas ao sonho. Após essa redefinição do sonho, entrou em cena a TRM, para testar se o som ajudaria a reativar a memória dessa "nova história". 

Nos experimentos, durante o sono REM — o estágio em que os pesadelos são mais comuns —, um fone de ouvido tocava um acorde específico de piano, o C69 (dó com sexta e nona), a cada 10 segundos, reforçando a sensação positiva associada ao sonho reescrito.

Os resultados foram expressivos. No início do estudo, o grupo que passou pela TMR experimentava uma média de 2,94 pesadelos por semana. Após duas semanas de tratamento, essa média caiu para 0,19. A redução foi impressionante também no grupo de controle, que não teve o estímulo sonoro e passou de uma média de 2,58 para 1,02 pesadelos semanais. 

O acorde C69 tem um som bastante agradável. (Fonte: PianoFramework, YouTube/ Divulgação)

Três meses depois, ambos os grupos ainda apresentavam uma redução significativa, com uma média de 1,48 para o grupo de controle e 0,33 para o grupo TMR. Além de menos pesadelos, os pacientes da TMR relataram um aumento em sonhos felizes.

Mas por que o acorde C69? A escolha pode parecer arbitrária, mas cientistas sabem que sons com significado emocional específico, ao serem reproduzidos durante o sono, podem reforçar memórias e emoções associadas

No caso desse acorde, ele foi escolhido por sua sonoridade suave e tranquilizadora, ideal para estimular uma sensação de segurança e conforto. Assim, ao associar o som com a experiência positiva reescrita do pesadelo, o cérebro tende a reforçar a emoção positiva enquanto dormimos.

Em busca de um sono de qualidade

Nada como uma bela noite de sono, não é mesmo? (Fonte: GettyImages/ Reprodução)
Nada como uma bela noite de sono, não é mesmo? (Fonte: Getty Images/ Reprodução)

Os benefícios vão além de simplesmente evitar o medo noturno. Dormir sem pesadelos melhora a qualidade do sono, reduz a ansiedade e quebra um ciclo comum que leva muitos pacientes com pesadelos crônicos a um estado de insônia e exaustão. 

Esse impacto emocional e físico do sono de má qualidade pode agravar problemas de saúde, como alterações de humor, dificuldade de concentração e até o enfraquecimento do sistema imunológico. Dormir bem, portanto, não é apenas um luxo, mas uma necessidade vital para nossa saúde mental e física.

Os autores do estudo afirmaram que os resultados foram animadores, principalmente porque a terapia demonstrou-se eficaz em um curto período. Segundo eles, ver a redução nos pesadelos e o aumento nos sonhos felizes sugere que há um grande potencial para o desenvolvimento de novos tratamentos baseados no TMR. 

A equipe ainda ressaltou que a aceitação dos participantes, que mantiveram a rotina de terapia de ensaio de imagens e usaram o equipamento de som durante o sono, foi surpreendentemente positiva, o que abre portas para que o método seja implementado em tratamentos para outros distúrbios do sono.

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