Artes/cultura
25/09/2024 às 15:00•2 min de leituraAtualizado em 27/09/2024 às 16:23
Estudando o veneno de um caramujo marinho, considerado o mais mortal do mundo, pesquisadores podem ter encontrado pistas de uma substância capaz de regular os níveis de açúcar no sangue, algo como descobrir o “santo graal” dos diabéticos. Encontrada no predador caracol-cone-geográfico, a substância tóxica é parecida com o hormônio humano somatostatina.
Publicado recentemente na revista Nature Communications, o estudo explica como os efeitos típicos da toxina se parecem com as mensagens químicas típicas dos hormônios. Segundo os autores, aquilo que, nos caracóis, ajuda a imobilizar suas presas pode servir para desenhar medicamentos específicos para doenças como o diabetes e outros distúrbios hormonais graves e até fatais.
Para a autora sênior do estudo, Helena Safavi-Hemami, professora da Universidade de Utah (The U), "Animais venenosos têm, por meio da evolução, componentes de veneno ajustados para atingir um alvo específico na presa e interrompê-lo", explica a bioquímica em um comunicado de imprensa.
Chamada de consomatina, a toxina do caracol-cone atua como um pedal de freio para alguns processos corporais, da mesma forma que somatostatina faz nos seres humanos. Ela impede a elevação dos níveis de açúcar no sangue (glicose) e de outras moléculas. Só que a consomatina se mostrou bem mais estável e específica do que o hormônio humano.
Os pesquisadores mediram, em uma placa de Petri, a ação da consomatina com os mesmos alvos da somatostatina em células humanas. Eles perceberam que a toxina interage com uma das mesmas proteínas que a somatostatina. Só que, enquanto esta interage com várias proteínas, a consomatina influencia apenas uma.
Essa seletividade ajustada torna a consomatina mais eficaz do que os medicamentos sintéticos de primeira linha, além de durar muito mais tempo no corpo do que o próprio hormônio humano, com a ajuda de um aminoácido que dificulta sua quebra. Teoricamente, ela poderia se transformar em um remédio ideal e duradouro, mas seus efeitos ainda são pouco conhecidos no organismo humano para uma utilização segura.
Venenos de animais peçonhentos usam normalmente alguns mecanismos moleculares tanto para incapacitar presas como se defender de predadores. A maioria dessas toxinas desliga os sistemas nervoso, locomotor e cardiovascular das vítimas, além de poder causar danos aos tecidos.
Por isso, a descoberta de que alguns tipos de caracóis-cone caçam peixes usando "insulinas para induzir choque hipoglicêmico em presas", diz o estudo, pode ser um exemplo diferenciado de toxinas que atuam diretamente na regulação dos níveis de glicose no sangue.
Conforme o primeiro autor do artigo, Ho Yan Yeung, também da The U, "Isso significa que pode não haver apenas insulina e toxinas semelhantes à somatostatina no veneno, mas também outras toxinas com propriedades reguladoras da glicose". E justamente essas toxinas podem ser usadas para desenvolver novos medicamentes para diabetes.