Ciência
14/07/2018 às 06:00•2 min de leitura
Muito mais do que a pura inconveniência de não ter onde guardar a chave e o celular, a ausência dos bolsos em peças de vestuário femininas vem incomodando as mulheres há séculos por motivos bem mais profundos.
O clamor por esse detalhe tão prático e simples – porém quase sempre inexistente em roupas femininas – começou lá da Revolução Francesa, passou pelo Movimento Sufragista e chegou a ser pauta de grupos feministas durante um período.
Hoje em dia, os motivos que mantêm a resistência a incluir os bolsos de maneira mais democrática provavelmente têm a ver mais com o impacto financeiro sobre o custo das peças e a redução de vendas de bolsas que poderia vir disso do que com qualquer tipo de resistência. Contudo, nem sempre foi assim.
E depois fizeram-se os bolsos e as bolsas! Na Idade Média, as pessoas utilizavam pequenas bolsinhas amarradas na cintura para carregar seus itens essenciais, muitas vezes inseridas entre uma e outra camada de roupa, em uma espécie de acessório que o povo brasileiro carinhosamente chama de porta-dólar, hoje em dia.
Os bolsos nasceram como um derivado dessas pochetes, que evoluíram quando as bolsinhas começaram a ser costuradas na parte de dentro da roupa, para evitar que se perdessem e fornecer mais segurança.
Não vai ser uma grande surpresa, no entanto, saber que isso foi feito com as roupas masculinas. O motivo? As modas foram mudando, e as roupas femininas aos poucos perderam algumas camadas, de forma que, para manter a silhueta afinada, era preciso diminuir a quantidade de tecido, e não havia espaço para um volume onde seriam inseridos objetos.
Tudo isso aconteceu em paralelo à Revolução Francesa – que teve forte participação das mulheres –, quando surgiu uma motivação de cunho político. Os vestidos encolheram, e as suas usuárias não tinham mais espaço para carregar itens atrás de tantas camadas de pano na saia.
Bem, a indústria da moda criou essa ideia genial chamada chatelaine: uma espécie de um colar que dava suporte para levar os objetos que mais comumente as mulheres precisavam usar no dia a dia – uma tesoura, um dedal, uma amostrinha de perfume... Afinal de contas, do que mais poderiam necessitar? E que lugar melhor para levar isso tudo do que na cintura ou pescoço, não é?
Era tanta ideia errada que, no século XIX, o movimento Rational Dress Society fez uma campanha para aumentar a funcionalidade e a mobilidade das peças de vestuário voltadas ao público feminino.
Avance o disco da História para várias décadas depois, e temos as sufragistas, muitas das quais inclusive já vinham construindo sua pauta desde o Rational Dress.
E se havia alguém que precisava de vários bolsos, eram as sufragistas! Elas colocaram a mão na massa mesmo e chamaram a atenção da sociedade com greves de fome, manifestações nada pacíficas, cartazes, gritos e fogo. Uma das marcas do movimento das mulheres que lutavam pelo direito ao voto para todas eram as bombas e a incineração de casas e prédios abandonados, além da invasão de gabinetes onde não era permitida a presença feminina.
Para fazer tudo isso e conseguir transmitir uma mensagem, ter onde guardar seus pertences sem chamar a atenção – ou seja, sem andar com tudo pendurado no pescoço – era fundamental.
Os casacos que elas utilizavam, portanto, eram tão completos que podiam ter até seis bolsos, todos de fácil acesso para que tudo de que precisassem estivesse à mão. Essas peças chegaram a ser conhecidas como suffragette coats (casacos tipo sufragista).
Eis que a sociedade evoluiu, as mulheres conquistaram o direito de votar, mas ainda hoje precisam carregar seus itens em bolsas. A luta por mais bolsos funcionais em jaquetas, casacos, calças, saias e vestidos continua!
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