Estilo de vida
22/08/2020 às 08:00•2 min de leitura
A crise social causada pelo novo coronavírus traz reflexos instantâneos para o comportamento populacional, repercutindo em seus hábitos, estilo de vida e, especialmente, no modo de pensar.
Enquanto muitos tentam especular se as coisas voltarão ao normal após o fim da pandemia, esforços ainda são direcionados para a criação de uma vacina eficaz que permita o controle da transmissão e, consequentemente, a reestruturação das atividades cotidianas.
Porém, a cidade continua se adaptando às condições que lhe são impostas, sofrendo alterações constantes que muitas vezes fogem à percepção. E tais fatores, certamente irão impactar no futuro nas diversas formas de relações, resultando em uma nova fase social.
(Fonte: Agência Estado/Reprodução)
O afastamento das pessoas das ruas, na teoria, e a preferência ao trânsito de automóveis, força a construção de rodovias e estradas que excluem pedestres de sua circulação, devido à necessidade urgente de agilizar a viagem de passageiros em veículos.
Ao mesmo tempo, o trabalho remoto provoca uma nova procura no mercado imobiliário, com pessoas preferindo residências de acesso facilitado e longe da poluição sonora dos grandes centros.
A alta sociedade desloca-se para locais inóspitos e cercam-se em meio a enormes muros de condomínios e apartamentos residenciais. Comércios de luxo ocupam shoppings estrategicamente localizados, deixando pequenos e médios comerciantes à margem de onde o movimento se concentra: no centro da cidade.
A interação com a classe marginalizada é reduzida a buzinas e automóveis acelerando e, além disso, todo contato é breve, dando início a uma desigualdade proposta pela situação.
Enquanto isso, o excesso de veículos que transitam pelas ruas e avenidas acaba gerando uma crescente poluição para os pedestres, pois a recomendação de ficar em casa — para quem pode — não é seguida à risca por muitos que, mesmo tendo a alternativa de trabalhar home office, dão uma escapada.
Além disso, a pandemia não é generosa com alguns e o risco de perder o emprego presencial gera maior fluxo em trânsito. E quem paga todo o custo ambiental?
(Fonte: Reprodução/Google Street View)
Aplicativos de transporte para quem tem acesso e veículos nas ruas para quem pode custear combustível (que não é barato) são causas de um sistema urbano desigual, que coloca pessoas mais necessitadas por horas dentro de coletivos, os quais não conseguem cumprir horários por conta da intensidade do fluxo no trânsito.
Porém, a demanda maior na circulação não significa uma oferta na mesma proporção, visto que há poucos carros para muita gente. O impacto negativo que a pandemia traz para empresas, comércios e serviços resulta em uma queda drástica em sua atividade, reduzida por conta da crise econômica.
Ônibus sacrificam suas frotas, concessionárias e terceiros aumentam substancialmente os preços, e tudo isso reflete diretamente no padrão do cidadão, que, muitas vezes sem alternativa e sem condições de poder sair de casa — pelos mais diversos motivos —, torna-se mais uma vítima do desemprego generalizado.
(Fonte: Exame/Reprodução)
Enquanto é possível observar as elites lucrando mais em meio à pandemia ou, ao menos, mantendo-se estáveis devido aos inúmeros recursos com os quais podem contar, a pobreza está atingindo taxas assustadoras e a desigualdade alcança patamares de retrocesso talvez nunca vistos antes, especialmente em uma época em que governos disponibilizam auxílios de amparo para a classe c. Mas será que isso é suficiente?
A cidade vê o povo se afastar, aquele que a sustenta, que a mantém viva e funcional. Como isso irá impactar nas relações sociais, apenas o tempo irá dizer. Mas, por enquanto, o quadro real narra perspectivas tremendamente assustadoras que podem provar-se irreversíveis.