Peter Skyllberg: o homem que 'hibernou' em um carro

31/08/2020 às 15:003 min de leitura

Em 2012, na cidade de Umea, a cerca de 260 km de Estocolmo, na Suécia, Peter Skyllberg tinha 44 anos e era conhecido como um homem solitário. Até que sua história estampasse jornais e fosse pauta de programas pelo país, apenas poucas pessoas sabiam de sua existência.

Andreas Ostensson era uma delas. Dono de um posto de gasolina, ele via Peter diariamente e chegava a trocar algumas palavras com ele. O homem sempre parava no posto para abastecer o tanque de seu carro, comprar um cachorro-quente, pão, cigarros e tomar um copo de café. Para Ostensson, Peter era apenas mais um "solteirão" que aparentava sofrer com o saldo negativo de sua conta bancária. E ele não estava errado.

Peter morava em Karlskoga, no centro da Suécia, e trabalhou como carpinteiro boa parte de sua vida até que decidiu aceitar um emprego como “faz-tudo” em uma indústria de fabricação de ferro. Por um bom tempo, ele morou com a sua namorada em um apartamento emprestado pelo proprietário da fábrica.

O homem no carro

(Fonte: LifeDaily/Reprodução)(Fonte: LifeDaily/Reprodução)

Contudo, foi no início de 2011 que a sua vida sofreu um revés, quando ele decidiu abandonar a fábrica de ferro e apostar no ramo imobiliário. Peter chegou a comprar um pequeno prédio de seu antigo empregador com dinheiro emprestado, voltando suas economias de anos de trabalho para a renovação da propriedade. No entanto, as dívidas acabaram se acumulando a ponto de ele dever o equivalente a 150 mil euros e perder a única moradia que tinha.

“Ele se endividou muito e não conseguia pagar as contas, então simplesmente desapareceu”, relatou Magnus Jernberg, um antigo vizinho de Peter em Karlskoga.

Sem ter onde morar, Peter juntou o que havia lhe restado, colocou no carro e dirigiu até Umea. Ele morou em seu carro estacionado a caminho de uma floresta da cidade a partir de 2011.

“Ele era esquisito, tanto que até a namorada dele fugiu”, acusou Jernberg. Apesar disso, ele tinha uma boa aparência, estava sempre bem barbeado e vestido, tanto que quem o conhecia não achava que ele fosse um desabrigado.

Quando Peter simplesmente desapareceu de novo no fim daquele ano, ninguém sentiu a sua falta, a não ser pessoas como Ostensson. Peter não tinha contato com a sua família há mais de 20 anos, depois que aconteceu um escândalo familiar do qual a sua tia Siv Skyllberg se recusava a explicar. 

“O escândalo foi uma mentira, mas quando a verdade foi revelada, o estrago já estava feito. Não podíamos fazer nada a respeito”, foi o que ela disse em entrevista ao The Sunday Telegraph.

Soterrado abaixo de zero

(Fonte: The Telegraph/Reprodução)(Fonte: The Telegraph/Reprodução)

Em 17 de fevereiro de 2012, um grupo de motociclistas de neve atravessavam uma estrada quando encontraram um carro parcialmente soterrado, em quase 2 metros de puro gelo. Devido às condições climáticas daquela época do ano na Suécia, era muito comum que veículos parassem de funcionar, por isso um dos homens decidiu se aproximar. Quando limpou a neve da janela traseira, ele se assustou ao se deparar com um homem enrolado em um saco de dormir no banco de trás. Era Peter Skyllberg.

As autoridades foram alertadas e uma ambulância chamada até o local. Quando ele deu entrada no Hospital Universitário de Umea com um quadro de hipotermia extrema e desnutrição, os médicos descobriram que Peter estava desde 19 de dezembro de 2011 preso em seu automóvel, conseguindo sobreviver a uma temperatura de -30º C.

Pálido, fraco e macilento, o homem passou 2 meses sem comida, água e perdeu de 15 a 20 quilos. O diretor-médico do Hospital Noorland, Dr. Ulf Segerberg, apostou que a neve que cobria o carro de Peter teria o transformado em uma espécie de iglu, mantendo a temperatura interna suficientemente quente para que o homem não morresse.

(Fonte: Daily Mail/Reprodução)(Fonte: Daily Mail/Reprodução)

O Dr. Stefan Branth, médico da Universidade de Uppsala, por outro lado, acreditava que o metabolismo do homem teria desacelerado: “como um urso em estado de hibernação”. “Com a falta de gasto de energia, o seu corpo se ajustou à baixa temperatura e preservou o calor suficiente para que ele continuasse vivo”, diagnosticou o médico.

Acredita-se que uma pessoa saudável e aquecida consiga sobreviver no máximo 4 semanas sem comida, porém Peter Skyllberg esteve nas piores circunstâncias possíveis e ainda viveu por mais de 60 dias. “Com a fome de um mês, qualquer um pode tolerar isso se tiver ao menos água para beber. Se você tiver gordura corporal, vai sobreviver ainda mais, embora acabe parecendo alguém vindo de um campo de concentração”, declarou o Dr. Segerberg.

O motivo de Skyllberg

(Fonte: LifeDaily/Reprodução)(Fonte: LifeDaily/Reprodução)

Até hoje não se sabe exatamente qual foi o motivo que levou Peter a hibernar dentro de seu carro. A polícia da época acreditava que poderia se tratar de um comportamento suicida, visto que o automóvel não estava totalmente bloqueado pela neve.

Alguns investigadores descartaram a ideia de suicídio. Para eles, Peter era só um homem que não tinha onde morar e tentava ao máximo se esquentar quando o tempo piorou tanto a ponto de impedi-lo de se mover. 

Siv Skyllberg afirmou que o sobrinho sempre foi muito estranho, mas duvidava que ele pudesse atentar contra a própria vida, apesar de não manter mais contato com ele. “Ele ficava longe das outras crianças, até mesmo dos próprios irmãos. Ele costumava ler muito”, relatou a mulher.

Mesmo após toda a repercussão do caso, quando Lars Skyllberg, pai de Peter, telefonou para o hospital 2 semanas depois para falar com o filho, o homem se recusou a atendê-lo.

Peter Skylberg não se tornou mundialmente conhecido igual Alexander Silkirk, Mitsutaka Uchikoshi ou pelo menos foi pauta de um documentário como Jean Hilliard, porém a sua história continua sendo verdadeira e surpreendente.

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