Ciência
21/09/2020 às 11:00•2 min de leitura
Após graves acidentes — especialmente aqueles que envolvem lesões no cérebro —, algumas pessoas podem ficar paralisadas ou inconscientes. Em alguns casos, por anos a fio. Agora, imagine ficar completamente imóvel e parecer inconsciente, mas, na real, você consegue pensar, ver e ouvir tudo ao seu redor — apenas não consegue mover nenhum músculo do corpo para se comunicar.
É isso que sofre quem possui a chamada "síndrome do encarceramento" (ou locked-in syndrome, em inglês). A britânica Tracey Okines, de 39 anos, se tornou notícia na semana passada, após lançar um livro contando sua experiência com a doença — que ela escreveu usando apenas o movimento dos seus olhos.
Britânica conseguiu escrever um livro inteiro apenas com seus olhos (Fonte: Yahoo/Reprodução)
Tracey era uma mulher bastante ativa, com uma vida comum antes do acidente que mudou sua vida, em 2008 — e continuou sendo por algum tempo depois dele, até que as consequências chegassem. Acontece que ela feriu uma artéria no pescoço ao cair de cabeça durante um exercício ginástica artística.
Ela não sentiu nada de anormal no momento e continuou seguindo sua vida, porém o acidente formou um coágulo na base de seu cérebro. Alguns dias depois, Tracey teve um acidente vascular cerebral (AVC) e ficou em coma por cinco meses. Quando acordou, ela foi diagnosticada com a síndrome de encarceramento: todos os seus sentidos e a sua consciência estavam preservados, mas ela não conseguia mover nenhum músculo.
A síndrome é uma sequela que atinge uma pequena parcela das pessoas que sofrem AVCs. Ela não tem cura, mas é possível fazer alguns progressos com reabilitação. Após anos de tratamento, Tracey consegue usar um aplicativo para se comunicar usando o movimento dos olhos. Depois disso, ainda aprendeu a usar botões em sua cadeira, acionados quando ela mexe seu queixo. Mais recentemente, ela conseguiu voltar a se alimentar com comida normal e está aprendendo a falar novamente.
Livro é intitulado Que bom que você não morreu, mamãe, frase que a filha de Tracey disse a ela (Fonte: Amazon/Reprodução)
Apenas com o movimento dos olhos, ao longo de seis anos, Tracey conseguiu escrever seu primeiro livro, contando como é viver com a síndrome de encarceramento. O título do livro é a frase que sua filha, de 19 anos, disse quando as duas se viram pela primeira vez depois do acidente: "Que bom que você não morreu, mamãe" ("I'm glad you didn't die mummy", no original).
Em sua autobiografia (disponível em inglês na Amazon), ela conta que não sabia nada sobre a síndrome antes de ser diagnosticada com ela e que escreveu o livro para que outras pessoas não se sintam perdidas, como ela se sentiu. Parte dos lucros serão doados para bancos de alimentos da região onde Tracey vive, na Inglaterra.