Artes/cultura
26/07/2021 às 09:00•2 min de leitura
Mais de 100 anos depois do fim da escravidão no país, podemos presumir que a maioria das pessoas concorda que escravizar outros seres humanos pela diferença da cor da pele é algo absolutamente errado e absurdo. Embora a escravidão tenha acabado legalmente em 1888, o seu legado, o racismo, ainda existe na sociedade. Infelizmente, isso ocorre não só do Brasil, mas também em outras nações, como os Estados Unidos (para citar apenas um).
Em uma rápida visita ao centro das cidades, é fácil encontrar monumentos ou estátuas de pessoas que pavimentaram a história de uma forma não muito positiva. Se essas ações negativas estão historicamente marcadas, por que os símbolos foram criados e ainda estão lá até hoje?
A estátua do bandeirante Borba Gato foi incendiada, levantando o debate da relevância de símbolos históricos de personalidades que foram responsáveis por mortes, estupros, bem como caças a indígenas e negros na época da escravidão. (Fonte:Twitter/Reprodução)
Os defensores dos monumentos, além de apontarem os atos como vandalismo e depredação de obras públicas, dizem que o debate deve ser feito de forma mais apaziguadora e que os monumentos servem para "recontar" a história. Em contrapartida, quem apoia o fim das homenagens diz que se é para relembrar o passado a fim de evitá-lo, por que isso não é feito em museus e de forma mais elaborada, como ocorre em Auschwitz, na Polônia?
No contexto sobre as lutas raciais, há uma comparação entre as atitudes dos brasileiros e as dos norte-americanos. Nos Estados Unidos, há uma radicalização muito maior tanto com os símbolos escravagistas como com o racismo em si. O caso de George Floyd e do movimento Black Lives Matter têm um impacto social muito maior lá do que os movimentos ocorridos aqui.
Desde 2016, no governo de Barack Obama, o Estado adotou políticas de retirada das áreas públicas monumentos e símbolos racistas e confederados. O Brasil teve 100 anos a mais de escravidão do que nos EUA, totalizando 353 anos, mas ainda ignoramos os debates sobre o nosso passado escravista e tratamos como vandalismo intervenções em monumentos racistas.
Nos Estados Unidos, houve a retirada da estátua do general confederado Robert E. Lee, símbolo dos Estados escravistas do sul na Guerra Civil Americana. (Fonte: Getty Images/AFP)
Os historiadores apontam que o histórico do movimento por direitos civis trouxe uma consciência política muito maior para os norte-americanos do que a disseminada no Brasil. Como aqui nunca houve política explícita de segregação, as pessoas acreditam no mito da democracia racial e não conseguem associar as discriminações que ocorrem contra negros e indígenas (seja no mercado de trabalho, seja na vida pessoal) ao racismo estrutural.
Assim, a sociedade brasileira não reconhece como racismo a perpetuação desses símbolos. Além disso, o debate é feito de modo muito superficial e não inclui referências do movimento negro ou do indígena para ir a fundo na relevância desses monumentos na história desses povos.