Artes/cultura
03/06/2022 às 02:00•2 min de leitura
Milhares de mulheres do distrito de Beed, na região de Marathwada, na Índia, removeram seus úteros. O motivo: aumentar sua produtividade no trabalho e evitar a perda de renda.
Estas mulheres são trabalhadoras em fazendas de cana-de-açúcar, que se afastam ou levam suas famílias por seis meses para participar da colheita. Elas são convencidas por conta do salário ou pelo argumento de algum médico.
O que ocorre é que os donos das fazendas de cana se recusam a contratar mulheres que menstruam, pois elas podem perder um ou dois dias de trabalho por causa das cólicas. Como as condições destes locais não são das melhores, elas sentem muita dificuldade em lidar com este período do mês por conta da precariedade do ambiente.
(Fonte: NewsClick)
As famílias inteiras dessas indianas costumam se mudar para estas fazendas na época da colheita. Muitas vezes, marido e esposa são contados como uma unidade, recebendo um único salário. Se eles faltam a algum dia de trabalho, precisam pagar uma multa.
Neste local, eles vivem em cabanas ou barracas sem banheiros. É um trabalho duríssimo. A colheita também é feita à noite; por isso, não há um horário organizado nem para que possam dormir.
As condições de higiene são péssimas, o que leva que muitas mulheres contraiam infecções. Segundo ativistas que trabalham nestes casos, há médicos inescrupulosos que incentivaram estas trabalhadoras a passar por cirurgias desnecessárias ao invés de tratá-las com remédios.
Como muitas destas indianas já têm filhos, elas não se importam muito em correr os riscos de uma cirurgia como essa e são levadas a acreditar que esta seria uma boa solução. Algumas delas, inclusive, estão na casa dos 20 anos.
O resultado é que, segundo um inquérito produzido em Beed em 2019, mais de 13 mil mulheres haviam tido seus úteros removidos. A imprensa passou a chamá-las de "as mulheres sem ventre". Já há pesquisas mostrando que muitas dessas mulheres passaram a relatar problemas de saúde após terem feito essas cirurgias.
(Fonte: Feminism in India)
Esta situação é um reflexo da extrema pobreza enfrentada pela população de Beed, que precisa optar por um trabalho degradante e mal pago para poder sobreviver. Estima-se que 80% dos trabalhadores destas fazendas migraram apenas para trabalhar nelas.
Um comitê constituído pelo governo de Marathwada apontou que várias situações acarretam nesta miséria, como os casamentos precoces entre a população, a falta de informação sobre saúde e a escassez de água no local. Muitas famílias se mudam para Beed por conta da seca em seus locais de origem.
Este comitê também analisou o aumento do número de histerectomias a partir de entrevistas com estas trabalhadoras. Constatou-se que, de fato, elas estavam optando pelas cirurgias para evitar a perda de seus pagamentos dos dias em que acabavam se retirando da lida por conta das dores menstruais.
O relatório feito pelo comitê registrou as histerectomias de 13.861 mulheres, e que 45% delas relatou posteriormente problemas de saúde físicos e mentais.