Estilo de vida
24/01/2023 às 10:00•3 min de leitura
Nas últimas semanas, discussões sobre uma modalidade alternativa do comportamento humano nas redes sociais vêm ganhando força. Após trends viralizarem no TikTok, o "macho sigma" surge como uma moda curiosa por combinar traços do "alfa" com uma personalidade mais introspectiva e socialmente desinteressada.
Consensualmente falando, o macho sigma seria uma mistura do alfa com características reservadas e solitárias. Pessoas que adotam esse estilo de vida se conceituam como uma espécie de "lobo solitário", reservando opiniões fortes, um espírito de liderança e atuação pontual. Esses padrões seriam idealizados como uma forma de escapar do senso comum da sociedade, esbanjando um certo status de confiança, autenticidade e um ar de superioridade.
Muito atuante na internet, esse grupo se destaca por utilizar ícones de perfis representados por símbolos do cinema e da cultura popular. Alguns deles incluem Patrick Bateman, de Psicopata Americano, K, de Blade Runner 2049, Tommy Shelby, de Peaky Blinders, Lou Bloom, de O Abutre, entre outros. O que antes era apenas uma persona, agora se tornou uma tendência nas redes sociais, se expandindo para vários tipos de conteúdos coletivos, como memes, edições de vídeos e mais — normalmente acompanhados pela música "Drive Forever" e satirizando canais do YouTube.
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Além da identidade masculina, a mulher também estaria encaixada dentro desse círculo sigma. Trends do TikTok colocam o indivíduo feminino — a mulher sigma — como uma integrante de características alfa, mas dotadas de uma maior profundidade, de uma vida guiada por suas próprias atitudes e propósitos e de ações baseadas na lealdade, na inteligência e na racionalidade.
A maior parte dos personagens que emprestam suas características aos machos sigma possui algumas coisas em comum: o desinteresse explícito por mulheres, a fixação pela produtividade e uma devoção à riqueza como meio de garantir o autocuidado e uma atração nata. Apesar disso, essas ideias guardam um conceito assustador sobre supremacia branca, misoginia e o alcance dos ideais de extrema direita, de acordo com seu criador, Theodore Robert Beale.
Beale, ativista e escritor de extrema direita, cunhou o termo "sigma" em 2010, de acordo com uma publicação em seu blog. Ele conceituou o macho "ideal" como alguém que joga segundo suas próprias regras, ignorando o direito de participação das mulheres — incluindo o de votar em uma democracia representativa — e classificando homens negros como “500 vezes mais propensos a possuir uma variante genética ligada à violência e agressão do que os homens americanos brancos”.
— Sigma Bale (@shitpostbale) November 1, 2022
A história mostra como é perigoso apostar nessas espécies de "seitas" não institucionalizadas para atrair homens desiludidos e mostrar como eles podem ser superiores a partir de um comportamento que tende ao autodomínio. Quando esses valores se concretizam, surge uma espécie de comportamento amargurado e cínico, fazendo pessoas que buscam esses conteúdos voltarem à cultura "incel" — homens heterossexuais que se mantêm virgens por se sentirem rejeitados — e ao encontro de um niilismo social.
Apesar desse pensamento sigma ser visto como uma paródia da cultura popular, as mensagens, a linguagem e o significado por trás dele remontam a algo maior do que se propõe e esbanja uma visão sexista inspirada pela luta por domínio. Hoje, pessoas que acreditam ter influência vendem cursos sobre a importância de ser um sigma e ensinam jogos de sedução, objetificando mulheres e mostrando como personagens agressivos de filmes podem servir como fundamento para trazer comportamentos confiantes — e extremos.
Essas trends nas redes sociais podem ser uma porta de radicalização para jovens e crianças, inserindo-os em uma sociedade baseada na distinção e separação de classes e em uma hierarquia imposta entre homens e mulheres.