Solomon Perel: o jovem judeu que fingiu ser nazista para sobreviver

09/04/2023 às 13:003 min de leitura

Pior do que morrer, talvez seja enfrentar a possibilidade da morte. Assim foi a vida dos Sonderkommandos no campo de concentração de Sobibor durante as etapas iniciais do Holocausto da Alemanha nazista de Adolf Hitler. Os 600 trabalhadores escravos judeus foram responsáveis pela tarefa de remover cadáveres gaseados dos seus semelhantes das câmaras de gás, esfregar sangue e excrementos dos torturados; cremar corpos, separar roupas, bagagens, e outros vários tipos de obrigações.

Eles estavam vivos só porque eram úteis, e isso por um determinado tempo, visto que eram assassinados periodicamente pelos oficiais da SS por conhecerem os segredos mais sujos do genocídio e dos nazistas. 

A não ser organizar uma fuga massiva daquela realidade, eles não tinham o que fazer senão aceitar seu destino, o que não foi o caso de Solomon Perel, o jovem judeu que fingiu ser um nazista para sobreviver ao Holocausto.

"Não se esqueça de quem é"

Solomon Perel. (Fonte: The Washington Post/Reprodução)Solomon Perel. (Fonte: Shlomo Perel/U.S. Holocaust Memorial Museum/Reprodução)

Antes de sua "primeira morte", Solomon Perel nasceu em 21 de abril de 1925, em Peine, Baixa Saxônia, ainda sobre a sombra da Primeira Guerra Mundial, e desfrutou de uma infância considerada perfeita na Alemanha.

Um dos quatro filhos de pais judeus, eles imigraram da Rússia para a Alemanha, então em casa Perel falava iídiche, a língua germânica das comunidades judaicas da Europa Central e Oriental, e um alemão perfeito fora de casa. Isso foi essencial para quando os nazistas ascenderam ao poder, em 1935, e a família teve que se mudar para Lodz, na Polônia, onde uma tia do jovem morava, depois que a sapataria da família foi saqueada e ele expulso de sua escola. Começava ali sua experiência com o anti-semitismo nazista e toda a atmosfera de rejeição e morte contra seu povo.

(Fonte: The Washington Post/Reprodução)(Fonte: Shlomo Perel/U.S. Holocaust Memorial Museum/Reprodução)

“Foi minha experiência de infância mais traumática”, lembrou Perel, mais tarde, em uma entrevista ao The New York Times. “Aquela bárbara expulsão da escola porque alguém me considerava diferente”.

A estadia de Perel durou até 1 de setembro de 1939, quando a Polônia foi invadida, e sua família separada e destruída para sempre. Antes de nunca mais ver os rostos de seus pais, sua mãe implorou para que ele fizesse de tudo para continuar vivendo. Seu pai, por outro lado, incentivou para que ele não se esquecesse de quem era e permanecesse judeu, sempre.

A "primeira morte"

(Fonte: Volkswagen AG/Reprodução)(Fonte: Solomon Perel/Volkswagen AG/Reprodução)

Perel e seu irmão Yitzhak tentaram escapar da Polônia pela parte ocupada pelos soviéticos, e acabou sendo colocado em um orfanato em Grodno, administrado pelo Komsomol (a organização juvenil do Partido Comunista da União Soviética), enquanto seu irmão foi realocado para Vilnius, na Lituânia.

A estadia durou até junho de 1941, depois que os nazistas invadiram a União Soviética. Perel foi capturado perto de Grodno pela 12ª Divisão Panzer (Wehrmacht), mas, por ser um falante nativo de alemão, conseguiu convencer seus captores de que era um alemão étnico que vivia fora da Alemanha. Assim que foi aceito pela unidade como intérprete russo-alemão, Perel "morreu" pela primeira vez para que pudesse cumprir o pedido de sua mãe: viver.

(Fonte: The Week/Reprodução)(Fonte: Solomon Perel/U.S. Holocaust Memorial Museum/Reprodução)

Desse momento em diante, Solomon Perel se tornou Josef Perjell, e se juntou à Juventude Hitlerista, tendo que usar uniforme nazista, frequentar aulas, aprender sobre como tudo sobre o seu povo era errado e de que, por isso, não deveriam viver.

Para o jovem, foi uma tortura que o destruiu psicologicamente, pois, cada dia que acordava, era um medo diferente de ser descoberto. “Eu me sentia esquizofrênico. Durante o dia, eu era um jovem alemão que queria vencer a guerra, cantava canções contra os judeus e gritava ‘Heil Hitler’; e à noite, na cama, sozinho, chorava de saudade da minha família”, lembrou Perel.

O caminho mais difícil

(Fonte: The Washington Post/Reprodução)(Fonte: Erika Rabau/ullstein bild/Getty Images)

No Natal de 1943, o jovem chegou a pegar um trem para Lodz e vagar pela cidade em busca de sua família, mas só encontrou carroças carregadas com cadáveres de judeus e escombros. Ele nunca mais viu o rosto de seus pais e irmãos.

Viver uma identidade diferente afetou tanto o jovem que, quando a guerra chegou ao fim com os nazistas saindo como perdedores, ele chegou a se comover porque não sabia mais quem era. Demorou um tempo até que Perel entendesse tudo o que estava acontecendo, depois que foi resgatado pelas forças Aliadas.

Perel imigrou para Israel e começou uma nova vida, e se esforçou tanto para deixar as memórias do Holocausto no passado, que só foi contar sua história para o mundo em 1980. 

Solomon Perel morreu aos 97 anos, em 2 de fevereiro de 2023, com uma das declarações mais tristes sobre quem sobreviveu ao Holocausto: “O caminho para voltar ao judeu em mim foi o mais difícil de todos”.

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