A indústria do couro adoece e mata seus trabalhadores

29/04/2023 às 11:003 min de leitura

Usado para confeccionar ou implementar uma variedade de itens – como roupas, calçados, bolsas, móveis, ferramentas e equipamentos –, o couro compõe um mercado global de artigos avaliado em US$ 242,85 bilhões somente em 2022, e deve crescer a uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) de 6,6% de 2023 a 2030.

No momento, a China é o maior produtor e exportador de produtos feitos em couro, produzindo cerca de 4 bilhões de metros quadrados de couro todos os anos, superando em mais de duas vezes o índice de produção do Brasil, que fica na dianteira com o curtimento de mais de 40 milhões de couros e peles. Nosso país conta com o maior rebanho bovino comercial do mundo para sua indústria de carnes, o colocando entre os cinco maiores fabricantes de couro do planeta.

Para além dos impactos ambientais, atualmente, grande parte da produção de couro que chega aos países ocidentais é produto de fábricas asiáticas, muitas delas sediadas em países como a Índia, onde o trabalho de curtume é feito por pessoas economicamente vulneráveis que vivem em condições precárias. E isso não é tudo, a perigosa produção do couro mata vários trabalhadores anualmente.

Sufocando em silêncio

(Fonte: Collective Fashion Justice/Reprodução)(Fonte: Collective Fashion Justice/Reprodução)

O processo de tratamento do couro está dividido em preparação, curtimento e finalização. Durante o estágio de preparação, o processo começa com a conservação (ou cura) por meio de pesticida, inseticida e sal. Em seguida, o couro é imerso em enzimas que vão decompor as gorduras e proteínas da pele, além de tratar pragas e micróbios; depois, enfim, chega no estágio de calagem e depilação em solução alcalina, com peróxido de hidrogênio usado para remover o calcário das peles, que depois são tratadas com ácido fórmico e sulfúrico, formiato de sódio, cloreto de sódio e metabissulfito de sódio.

Na etapa de curtimento, a estrutura do couro é estabilizada para ser protegida do calor, da degradação e hidrólise microbiana e enzimática, fortalecendo e o convertendo em couro. Mais uma série de ácidos e sulfatos são usados para o tingimento, esfoliação e depilação da pele. Depois de pronto, o couro é encaminhado para o tingimento definitivo, engorduramento e revestimento, que criam uma barreira protetora para a pele, alterando a cor e a tornando mais elástica.

(Fonte: MAHI/Reprodução)(Fonte: MAHI/Reprodução)

Essas pessoas pobres em fábricas decadentes espalhadas pelos locais mais vulneráveis da Índia, Bangladesh, América Central e Sudão desenvolvem lesões musculoesqueléticas agudas e crônicas (que afetam os músculos, ossos, ligamento, meniscos, cápsulas articulares e até a coluna vertebral), escamação e ferimentos por traumas devido ao contato físico e respiratório com os produtos altamente tóxicos do processo de curtimento.

A verdadeira bolha tóxica que a movimentação desses produtos causa no ar acarreta também em problemas gastrointestinais que, normalmente, apenas ocorreriam com a ingestão ou consumo do produto. No entanto, aqui, acontecem porque os alimentos e bebidas consumidos no perímetro das fábricas acabam absorvendo as partículas expostas no ar.

A viagem do couro

(Fonte: The Ecologist/Reprodução)(Fonte: The Ecologist/Reprodução)

Como salientou um estudo publicado no Indian Journal of Occupational & Environmental Medicine, apenas trabalhar como curtidor de couro abre margem para vários tipos de cânceres, como de pulmão, melanoma e sarcoma de tecidos moles; bem como doenças no fígado e nos rins devido ao alto teor de produtos químicos incrivelmente cáusticos, como o cromo, arsênico e vários tipos de solventes, como o formaldeído.

No final do dia, o couro pode parecer bonito, mas requer um sacrifício danoso para sua fabricação.

(Fonte: Sir Gordon Bennett/Reprodução)(Fonte: Sir Gordon Bennett/Reprodução)

Atualmente, o setor do couro ocupa um lugar de suma importância no desenvolvimento da economia mundial devido às receitas de exportação, de um uso que data das primeiras civilizações no Egito e na Mesopotâmia. Há 10 mil anos, surgiram os primeiros couros à prova d’água, sendo que há 5 mil anos começou o curtimento real do produto.

A evolução do couro pode ser rastreada em todo mundo desde a Idade da Pedra até os tempos modernos, com as culturas encontrando usos valiosos para o material em suas vidas diárias, o que faz dele um dos produtos têxteis mais populares de todos os tempos.

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