Ciência
12/08/2023 às 13:00•2 min de leitura
Que atire a primeira pedra quem nunca "mandou ver" num rodízio de pizza, churrascaria, buffet livre ou almoço de família, mas pegou os talheres novamente quando a sobremesa foi servida.
Há quem diga que existe um compartimento reservado para as sobremesas no organismo, que sempre está disponível para elas, não importa o quanto você se empanturre antes. Mas o que a ciência diz sobre isso? A teoria do "estômago de sobremesa" tem fundamento?
Tem e não tem. Não é verdade que existe um compartimento reservado. Mas nós realmente encontramos um "espaço extra" para a sobremesa... no nosso cérebro. Ele é quem comanda esse mecanismo de comilança.
"Pode trazer as doces", diz a pessoa que comeu 25 pedaços de pizza no rodízio. (Fonte: Getty Images)
O professor Len Epstein, da Escola de Medicina da Universidade de Buffalo, em Nova York (Estados Unidos), explica que boa parte desse mecanismo é uma questão de estímulo. Isso quer dizer que as pessoas podem parar de comer porque "se cansaram" daquela comida, já sabem o gosto dela e não tem estímulo para continuar comendo. Está bom assim.
Mas, se você oferece um novo sabor, aroma ou textura, o cérebro "desperta" novamente e nós sentimos vontade de comer mais um pouquinho. Afinal, há algo novo para experimentar.
"É fácil superar essa sensação de 'ah, eu estou cheio", afirmou Epstein ao portal LiveScience. Esse mecanismo que nos faz comer mais quando um alimento diferente é servido tem o nome científico de saciedade sensorial específica.
(Fonte: Getty Images)
O professor fez alguns estudos científicos demonstrando a saciedade sensorial específica na prática. Em 2011, ele analisou um grupo com 32 mulheres: parte delas comeu o famoso mac-and-cheese americano cinco vezes numa semana, a outra parte comeu cinco vezes ao longo de cinco semanas.
As mulheres que comeram mac-and-cheese repetidamente, comeram menos que as outras, a quem esse prato foi servido só uma vez por semana.
Outra pesquisa, de 2013, separou 31 em crianças em três grupos: um recebeu o mesmo mac-and-cheese por cinco dias, o segundo recebeu marcas diferentes desse alimento, enquanto o terceiro grupo provou alimentos calóricos variados, como nuggets e hambúrgueres. De novo, as crianças com variedade de opções comeram mais que as crianças do mac-and-cheese.
Esse é o mesmo padrão que faz a gente comer feito um leão em um buffet, ou arranjar espaço para a sobremesa depois de se empanturrar num almoço de família. Variedade.
(Fonte: Getty Images)
Alguns estudiosos do assunto acreditam que os seres humanos fazem isso por uma questão evolutiva: pessoas gostam de variedade porque precisam de nutrientes variados, de grupos alimentares diferentes. Não que uma pizza doce tenha esses nutrientes — que os 25 pedaços de pizza salgada também não tinham —, mas nosso cérebro continua buscando a variedade.
"Agora, esse tiro sai pela culatra com a variedade de comidas densas em calorias que nós temos disponíveis. A variedade estimula o consumo excessivo e pode estar contribuindo para a obesidade", afirma Barbara Rolls, da Universidade Penn State.
Até porque o estímulo é só uma parte do fenômeno do "estômago de sobremesa": há também a questão do açúcar, que nos fornece uma baita carga de dopamina. Se você se acostumou a comer sobremesa, essa dopamina começa a ser liberada antes dela — o que faz você sentir uma vontade gigante de devorá-la.
Então o que isso tudo nos ensina? Bom... Nós podemos tentar "hackear o sistema" e fornecer variedade para o cérebro com alimentos mais saudáveis, como frutas.