Novo estudo tenta explicar a coulrofobia, o medo irracional de palhaços

Desde que palhaços deixaram de ser os “amigos da garotada” nos circos e teatros, passando também a serem retratados nas mídias como assassinos em série perversos e assustadores, um novo tipo de fobia surgiu: a coulrofobia, chamada popularmente de bozofobia, ou medo de palhaços.

Mas, de onde vem esse medo que angustia tanta gente? Em um estudo recente, publicado na revista Frontiers in Psychology, pesquisadores da Universidade de Gales do Sul, no Reino Unido, propõem que, além de representações de palhaços assustadores na mídia, esse medo intenso e irracional pode vir também da sua aparência física esquisita ou do seu comportamento imprevisível. Isso sem contar uma eventual experiência pessoal traumática.

Em busca da origem da coulrofobia

(Fonte: Hulton Archive/Getty Images)

O estudo partiu do princípio que, embora muito prevalente na população em geral, a coulrofobia ainda é um fenômeno pouco compreendido. Essa desconfiança frente ao comportamento "malandro" dos artistas que desempenham esse papel de tolo, bobo da corte ou curinga, remetem à época dos antigos deuses mitológicos – dos quais Loki representa um exemplo clássico.

Embora a figura do palhaço-assassino já esteja presente na arte pelo menos desde 1892 — na ópera "Pagliacci" de Leoncavallo —, há poucas referências sobre o medo que esse personagem pode ter gerado nas pessoas, além de alguns de seus sucessores, como o Coringa e o Pennywise. 

Para avaliar suas hipóteses, os autores realizaram uma revisão literária e aplicaram um novo questionário em uma amostra de 528 participantes que relataram essa fobia.

Teorias sobre as causas do medo de palhaços

(Fonte: Mike Moore/Evening Standard/Getty Images)

A primeira das três teorias etiológicas para o medo de palhaços é o desconforto causado pela sua aparência física, relatado no estudo como uncanny valley. Essa expressão, mais usada na robótica, diz respeito à inquietude que os seres humanos sentem em interações com humanoides. “Há algo em não ser capaz de ler expressões faciais”, explicou o professor Philip John Tyson, principal autor do estudo, ao The Washington Post;

"Portanto, a qualidade de ser 'quase humano' é o elemento-chave que causa desconforto", afirma o estudo. Nesse sentido, a maquiagem do rosto, geralmente branca, com uma boca vermelha, é muitas vezes interpretada como um sinal de palidez e doença, como se o palhaço tivesse uma doença contagiosa, gerando um sentimento de nojo. 

Finalmente, um dos motivos apontados pelos participantes da pesquisa para temer palhaços é a sua imprevisibilidade: eles fazem qualquer coisa por uma gargalhada. “Sinto-me desconfortável porque não consigo prever como ele ou ela se comportará” foi uma das afirmações mais marcadas no questionário, ainda que sorrir e ser perigoso não seja uma atitude apenas dos palhaços.