Artes/cultura
17/12/2023 às 07:00•2 min de leitura
Quem ama café está sempre em busca de novos grãos para experimentar, ou mesmo interessado em aprender novos métodos de preparo dessa bebida tão apreciada pelos brasileiros. Segundo os pesquisadores, ou melhor, um químico e um vulcanólogo, há um detalhe que até então passou despercebido por muitos, mas que pode levar a experiência de apreciar um café saboroso a um novo patamar.
O segredo não envolve o uso de equipamentos sofisticados, embora eles também proporcionem o preparo de uma bebida de qualidade com sabor marcante. Segundo a pesquisa, publicada na revista Matter, uma dose adicional de água no café é o que pode mudar tudo.
(Fonte: Getty Images)
Durante o processo de moagem do café, a preocupação muitas vezes gira em torno da torra e da intensidade do grão. Mas, durante o preparo, adicionar um pouco de água nos grãos antes de moê-los reduz significativamente a "sujeira" resultante desse procedimento e, de quebra, resulta em um café ainda mais saboroso.
Ou seja, essa seria uma etapa a ser executada antes mesmo de iniciar o preparo do café. Christopher Hendon, químico da University of Oregon, e o vulcanologista da Portland State University, Joshua Méndez Harper, associam o observado no grão de café ao material expelido em vulcões, onde ocorrem processos semelhantes.
Eles entendem que esse cuidado serve para reduzir o desperdício de café, uma vez que atenua os efeitos do atrito, característico da moagem, deveria acontecer em casa ou ainda na indústria. Quem já tem noção disso, a exemplo dos baristas mais experientes, recorre a alguns truques simples nesse sentido, como borrifar água nos grãos ou mesmo utilizar uma colher molhada para manuseá-los antes de prosseguir com a moagem.
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Com o novo estudo, agora há uma evidência concreta que há energia eletrostática atuando sobre o café e que a umidade realmente é útil para reduzir esse efeito.
Para provar isso, no entanto, os pesquisadores escolheram variadas amostras de grãos de café, torrados por diferentes períodos. Além disso, os grãos tiveram diferentes quantidades de água borrifadas sobre eles. Em seguida, os pesquisadores analisaram, então, o tamanho das partículas de café e a energia eletrostática presente.
Pode não parecer, dado o tamanho reduzido, mas quando os pequenos grãos sofrem atrito entre si, eles ficam eletrostaticamente carregados. Considerando isso, os pesquisadores conseguiram estabelecer uma relação entre a umidade e a eletrostática. Eles constataram que os grãos mais secos sofriam alteração na polaridade da carga e permaneciam energizados por um período maior.
(Fonte: Getty Images)
O mesmo foi percebido com os que foram torrados por um período maior, mais escuros, carregados com carga negativa. E quanto mais finos, mais carregados — contrário à teoria que diz que cafés com grãos mais finos apresentam um sabor mais intenso. Os grãos de café mais úmidos, por sua vez, sofreram o efeito oposto, ganharam menos carga.
Mas o que isso significa? Na prática, isso ajuda a água a entrar contato com o pó de forma mais uniforme, uma vez que a umidade contribui com a desagregação das partículas. Ou seja, é menor a aglomeração quando o café está menos carregado.
Com esse truque, portanto, o café expresso pode ficar levemente mais concentrado, o que ajuda a aproveitar melhor o uso do grão. Esse efeito pode ser observado em métodos de preparo que a água é derramada sobre o café, como no filtro convencional ou mesmo na cafeteira italiana.