Artes/cultura
04/09/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 04/09/2024 às 18:00
A busca por bem-estar e pelo autocuidado se tornou uma espécie de obrigação para todos nós. Obviamente, estar bem consigo mesmo deveria ser uma prioridade para todo mundo. No entanto, isso levou ao surgimento de um verdadeiro mercado, cujos produtos não param de chegar até nós de formas muito sedutoras.
São milhares de terapias, técnicas, dicas e até medicamentos que, muitas vezes, não passam de pseudociência disfarçada de conhecimento. E, com isso, às vezes fica muito difícil saber o que vale a pena investir tempo e dinheiro e o que é pura desinformação.
O bem-estar não é apenas um objetivo comum à maior parte das pessoas, mas também é algo que está à venda. Qualquer pessoa que use redes sociais com certeza sabe bem que há incontáveis empresas e influenciadores nos oferecendo cursos, suplementos e serviços em geral que supostamente vão melhorar muito a nossa vida.
Nem tudo parece legítimo, claro, mas nem sempre dá para reconhecer facilmente o que vale a pena levar em consideração e o que é pura besteira. Por isso, muitos especialistas já estão falando de uma "indústria do bem-estar" que é essencialmente nociva às pessoas.
Soma-se a isso o fato que a saúde mental habita em um terreno complicado: mesmo as terapias baseadas em evidências científicas podem não funcionar para todos, o que faz com quem muitos entrem em desespero querendo tentar qualquer alternativa que apareça. E isso abre espaço para muita gente queira ganhar dinheiro nesse setor.
Na última década, a indústria do bem-estar chegou a movimentar mais de US$ 4,3 trilhões em 2020, e pode chegar a US$ 8,5 trilhões até 2027. Ou seja, as pessoas estão cada vez mais em busca de soluções para as suas vidas, o que pode colocá-las em risco, no mínimo, de serem enganadas.
É isso que conclui o psicólogo Jonathan N. Stea, autor do livro Mind the Science: Saving Your Mental Health from the Wellness Industry, em que denuncia a presença da desinformação psicológica e da pseudociência na indústria do bem-estar.
Stea ressalta que a pseudociência presente nesse setor é prejudicial porque tira tempo e dinheiro que foram conquistados arduamente pelas pessoas. "Ela pode ser muito exploradora emocional e financeiramente dessa forma. E enquanto seu tempo está sendo tirado, seus sintomas de saúde mental podem estar piorando novamente, porque eles podem estar gastando esse tempo buscando cuidados baseados em evidências", menciona.
Não é fácil reconhecer o que é enganação dentro desse mercado, pois esta indústria pode ser muito convincente. Por isso, os especialistas sugerem ser importante se informar bem antes sobre o que você está comprando ou consumindo. Por exemplo, palavras como “energia”, “campo eletromagnético” e “quântico” são normalmente mal exploradas dentro desse setor do bem-estar.
Stea dá algumas dicas em seu livro, ao identificar algumas red flags que podem ajudar os seus leitores a reconhecer que estão lidando com charlatanice. Entre elas, estão os tratamentos que dependem da pessoa ter que acreditar em algo para dar certo, o argumento do ônus reverso da prova (algo como "prove para mim que isto não é bom para a saúde") ou tratamentos em que não se apresentam a partir de provas avaliadas pelos pares.
Por fim, vale lembrar que a internet e as redes sociais continuarão a tentar nos seduzir para nos vender produtos – nem que o produto seja apenas o conteúdo oferecido por influenciadores digitais. Por isso, desconfiar do que parece bom demais para ser verdade é sempre recomendado.