Índice de Massa Corporal: associação médica norte-americana sugere racismo e sexismo na métrica

24/06/2023 às 09:002 min de leitura

O famoso Índice de Massa Corporal (IMC) é uma métrica que tem sido usada por muitas décadas para realizar avaliações de saúde, calculando se uma pessoa está ou não acima do peso. O índice foi criado ainda no século XIX pelo matemático e estatístico belga Adolfhe Ketelet, e propõe que o cálculo seja feito ao tomar o peso de uma pessoa e dividi-lo por sua altura ao quadrado.

Há uns bons anos, surgiram contestações sobre a validade deste método, que é bastante limitado. Por exemplo: os atletas podem ter um IMC alto e uma baixa quantidade de gordura no corpo. Além disso, o cálculo não considera a distribuição da gordura, que é um fator de risco importante para certas doenças.

Pois agora o IMC tem levantado uma polêmica a mais. A Associação Médica Americana (AMA) alertou que, além de falha, o IMC tem um viés racista e sexista.

A questão de raça e sexo no Índice de Massa Corporal

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Para entender os argumentos da associação, é preciso retomar a origem do índice. Quando Adolphe Quetelet desenvolveu esta métrica, na década de 1830, ele só utilizou dados de homens brancos europeus. Ou seja, ele deu ao seu cálculo um viés sexista (pois não incluía a verificação nas mulheres) e racista (já que apenas investigou corpos de pessoas brancas). Além disso, o índice não diferencia o que é gordura, músculo ou osso.

A ideia original do cálculo não era que ele servisse para análises de indivíduos, mas apenas para estatísticas populacionais. Quem introduziu o IMC em diagnósticos médicos foi o fisiologista Ancel Keyes, que dedicou sua carreira profissional para estudar os efeitos das dietas na saúde. Keyes convenceu as empresas de seguro a adotarem o chamado índice de Quetelet, nome que era dado ao método.

Em seu comunicado, a AMA fala que reconhece problemas no uso do IMC "devido ao seu dano histórico, seu uso para exclusão racista e porque o IMC é baseado principalmente em dados coletados de gerações anteriores de populações brancas não hispânicas".

Quais as consequências?

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

O uso generalizado desta medida por profissionais ligados à saúde tem consequências sociais e econômicas importantes. Um seguro saúde pode sair mais caro, por exemplo, por conta de um IMC mais alto, ou um tratamento de fertilidade pode ter custo mais elevado por causa deste cálculo.

Embora a AMA não sugira que as pessoas deixem de usar o método, ela recomenda que os outros fatores sejam considerados. O IMC deve ser analisado apenas em conjunto com outras medidas, como o cálculo da gordura visceral, a circunferência da cintura, e fatores genéticos e metabólicos.

A idade também é um elemento relevante. Os idosos apresentam uma mudança na proporção entre gordura e massa magra. Com o avançar da idade, perde-se massa magra e aumenta-se a gordura. Isto pode levar a uma distorção de se considerar que sujeitos com grande quantidade de gordura estejam no peso adequado por conta apenas do cálculo do IMC.

O sexo do indivíduo também impacta. Geralmente, as mulheres têm maior porcentagem de gordura no corpo. O cálculo também não funciona durante a gravidez.

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